seg, 12 maio 2025

Crítica | Bem-Vindos de Novo

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O documentário “Bem-Vindos de Novo” acompanha a reconexão entre o casal descendente de japoneses Yayoko e Roberto Yoshisaki e seus 3 filhos, que foram deixados pelos cuidados dos avós por 13 anos enquanto os pais trabalhavam no Japão. A complexa reconstrução afetiva familiar é documentada pelo filho, o diretor Marcos Yoshi.

Quando uma família com problemas reais é utilizada como objeto de escuto em uma produção documental, ou até mesmo em uma obra de ficção, é certeza de que nós seremos nocauteado por temáticas de extrema sensibilidade que nos farão refletir durante e após a projeção. Em Bem-Vindos de Novo, o realizador Marcos Yoshi se mostra decidido em abordar, com total seriedade, abandono e identificação familiar, choque cultural e imigração. Há gloriosas intenções em construir uma narrativa que pudesse explorar minuciosamente cada tema, tendo como destaque passagens da interação entre os pais dekasseguis (descendentes japoneses), Roberto e Yayoko Yoshisaki, e a relação deles com os filhos, enquanto tudo é documentado por Marcos, que é quem passa mais tempo estabelecendo uma conexão com os genitores.

Momentos de crise, aprendizados e um insistente apelo ao saudosismo, o que pode até trazer uma certa identificação para o público saudosista e entusiasta da década de 1990, são documentados pelo longa. Há também o uso de imagens de arquivo, tanto antes da imigração dos pais para o Japão quanto depois, o que gera um triste contraste, já que, anterior a essa mudança arrasadora na vida dos filhos, a família Yoshiaki era aparentemente unida e comum.

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Tal conceito de família comum é negado inúmeras vezes, não de forma explícita, mas por meio dos fatos. Afinal, tanto os pais quanto os filhos passaram a se desconhecer, em 13 anos de ausência. É sentido em diversos momentos do longa que, apesar de uma aparente superação dos acontecimentos, ainda há mágoas e feridas que não cicatrizaram. É aí que entra em jogo as consequências de uma busca, muitas vezes sem pensar, por uma vida melhor, independente se as suas intenções são boas, ou não. No caso de Roberto e Yayoko, foi para garantir uma vida melhor para os 3 filhos. Por outro lado, isso ocasionou 13 anos de perdas.

Imagem: Embaúba Filmes/Reprodução

Todo esse conflito emotivo do longa poderia ter sido melhor explorado se não houvesse uma incômoda repetição narrativa e estética por parte de Yoshi. Muito do impacto emocional também é perdido com a narração em off do diretor, que é repetitiva e desprovida de emoções.

Outra grande quebra de clima em Bem-Vindos de Novo ocorre com o direcionamento precário e desprovido de recursos por parte do realizador. Não que a direção de Marcos Yoshi seja completamente falha, pois há raros momentos em que o enquadramento da fotografia conseguem captar uma essência de isolamento e melancolia, mas, na maioria do filme, a estética é deixada de lado, fazendo o documentário se aproximar de uma produção caseira com um orçamento mínimo. Cortes repentinos, passagens de tempo confusas, áudio precário e já falada narração em off mais incômoda que auxiliadora da narrativa podem estranhar o espectador.

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Com uma proposta louvável, cercada de temas relevantes que passam uma realidade sofrida por diversas famílias de imigrantes, não só no Brasil, mas ao redor do mundo, Bem-Vindos de Novo tem seus momentos, apesar de discretos, que transmitem emoção, mas faltou repassar todas as suas dores com mais emotividade e técnicas narrativas convincentes. No mais, o filme peca por ser mecânico e vazio, mesmo diante de um generoso conteúdo.

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Destaque

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