Após conquistar considerável fama, principalmente com seus filmes de heróis, Zack Snyder – apadrinhado a certo ponto por Christopher Nolan – se tornou, assim como seu amigo, um queridinho do grande público, com uma fanbase bastante expressiva. Contudo, até mesmo alguns de seus mais ferrenhos seguidores tiveram dificuldade de defender seu lançamento do ano passado, Rebel Moon – Part One, o filme de entrada para a nova franquia do diretor, que nesse mês de abril ganhou mais um capítulo. Se por um lado é possível atestar que essa continuação tem um pouco mais de fôlego e é levemente melhor que seu predecessor – algo não muito difícil de ser alcançado – por outro, o longa está longe de atingir sua ambição de ser um épico de ficção científica memorável idealizado por seu realizador.
É preciso reconhecer que Zack Snyder dirige com paixão, o que é louvável como ponto de partida, mas não garante por si só um bom resultado final. O diretor claramente se preocupou em desenvolver um estilo próprio bastante característico – com abundância de câmera lenta e lens flares – no entanto, não dispensa o mesmo cuidado com a forma de aplicação dessas técnicas, que em determinadas cenas acabam funcionando contra o filme, ao invés de ao seu favor, tirando a carga dramática de um beijo, por exemplo, ou sendo usada à exaustão até perder o efeito desejado. Tornando certas passagens um exercício vazio de técnicas mal aplicadas, que não condizem com o tom almejado pelo filme.
Algo que até poderia ser contornado se ao menos Snyder conseguisse fluir bem a narrativa, só que nem isso consegue. Ele nos apresenta a um universo interessante – com um enorme potencial – envolto em um conflito épico de disputas de poder e exploração de povos, o qual ele insiste em explicar, não uma ou duas vezes, e sim ao longo do filme inteiro, o tempo todo, sem trégua. Até mesmo um momento de ternura entre os personagens, quando uma criança lhes oferece presentes, é utilizado para explicar as características de cada membro da equipe, que alguns minutos depois irão se reunir em uma mesa para explicarem seu passado – em uma cena que parece interminável de tão maçante. Isso sem contar o voice over logo na abertura para explicar o filme anterior, lançado a menos de seis meses atrás. E outros tantos exemplos de explicação que se fossem mencionados ocupariam essa review inteira. Ou seja, o público fica aguardando o desenrolar do conflito político, que é constantemente adiado por conta das intermináveis explicações – algumas vezes repetidas.
Além disso, a suposta ameaça dos vilões é apenas textual, então nunca sentimos de fato o peso de presença, por mais que todo mundo insista em contar o quanto eles são malvados, as poucas chances que o almirante tem de mostrar sua vilania é sempre contra inimigos indefesos – ou um tripulante em sua nave que fica parado esperando tomar um tiro.
Se o vilão não causa temor efetivo e o conflito é mais explicado do que desenvolvido, o efeito causado é o desinteresse, quem está assistindo vai aos poucos assumindo uma postura cada vez mais apática em relação aos acontecimentos, que supostamente deveriam funcionar numa crescente, que nunca chega e deixa uma sensação de fatiga no espectador.
No meio de tamanha inconsistência, é ao menos admirável perceber Zack Snyder se esforçando para sair do genérico – ainda que não consiga escapar de suas próprias armadilhas. O diretor tem sim um potencial criativo, evidenciados em determinados momentos específicos desse filme, que está longe de ser bom, mas também não chega a ser catastrófico. De qualquer forma, fico sempre no aguardo pelo próximo projeto do realizador, que apesar dos tropeços recentes, teve um início de carreira impossível de ser ignorado.