sex, 22 novembro 2024

Crítica | Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha

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Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha (Victoria & Abdul) estreia dia 16 de novembro no Brasil com roteiro de Lee Hall (Billy Eliot e Toast) e um elenco que inclui Judi Dench (Assassinato no Expresso do Oriente e 007 – Operação Skyfall), Ali Fazal (Velozes & Furiosos 7), Eddie Izzard (Hannibal), Adeel Akhtar (The Night Manager) e Michael Gambon (Kingsman e Unity), dirigido por Stephen Frears (Florence: Quem é essa mulher? e A Maior Luta de Muhammad Ali).

A produção da BBC Films resgata a amizade entre a Rainha Victoria (Judi Dench) e um jovem indiano Abdul Karim (Ali Fazal) que é responsável por entregar a ela uma moeda cerimonial em comemoração ao Jubileu de Ouro, ou seja, ao 50º ano de seu reinado em 1887.

Esse resgate, segundo o filme, é efetuado através de diários e Abdul encontrados apenas em 2010. Como todo filme que retrata um acontecimento histórico, existem várias verdades expostas e dignas de análises e ponderações por parte do espectador – seja ele um historiador ou pertencente ao público geral. A história de Abdul Karim ocorreu realmente como descrita no filme. A rainha o promoveu de criado a munshi – professor em indiano – e a corte se sentiu horrorizada e ameaçada, por isso, tentou colocar a Victoria contra o indiano. As fofocas e luxuosidade são coisas que causam furor no público geral – seja ele britânico ou de outra nacionalidade – até hoje (os filhos de William e Kate Middleton e, para os mais velhos, Lady Di, que o digam!).

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Nesse sentido, o filme trás um humor interessante em sua narrativa com os personagens misturando drama, sarcasmo e autocrítica, que não cansa o público não adepto aos filmes que retratam contextos históricos. A elite britânica é criticada pela mimada Victoria, que acusa seus súditos de interesseiros, bajuladores e preconceituosos em contraposição ao jovem servo indiano que omite algumas informações sobre seu país e origem à rainha para cair em suas graças e ascender socialmente. Entretanto, há uma lealdade mútua entre servo – Abdul – e soberana – Victoria. A simbologia do beijar os pés caracteriza a submissão, mas também um respeito e admiração profundos que o indiano tem para com sua governante. Em contrapartida, Victoria o demonstra acolhendo a família de seu conselheiro e querendo aprender mais sobre sua cultura.

A rainha quis aprender a língua (Hindi e Urdu) e cultura indianas também como uma sábia conquistadora. Aqui, cabe dizer que, em seu período de reinado, conhecido como Era Vitoriana, o Império Britânico se desenvolveu industrial, cultural, política, científico e militarmente. E ela é uma das figuras mais emblemáticas da história do país após Elizabeth I (1533-1603). Seu Império é representado por sua figura matriarcal benevolente, já que era uma rainha obstinada, honesta e emocional.

Como britânicos, a visão que Stephen Frears e Lee Hall trazem para o filme é bastante questionável enquanto verdade absoluta. Ainda que façam questão de provocar o “choque de olhares” e o “choque de culturas”, em que medida romanceiam a história? Nessa perspectiva, desde o início do longa, é colocada a discussão de “barbárie x civilização” sobre três pontos de vistas distintos: o do britânico nobre, o do indiano Mohammed e do indiano Abdul. Os britânicos acreditam que a Inglaterra é o símbolo da civilização em comparação à Índia. Essa visão contrapõe-se à de Mohammed que acredita que a Índia faz esse papel e que os ingleses são bárbaros por invadirem seu território, matar suas vacas e utilizá-las em pratos culinários como a gelatina. Por sua vez, Abdul, ainda que colonizado – ou por o ser – pelos ingleses, admira-os e a figura da rainha conquistadora é impositiva, quase que de forma apaixonada e ingênua. Tanto que ele decide correr perigo e permanecer a seu lado até sua morte – sendo deportado logo após. Quando o espectador é levado por essa visão apaixonada e ingênua de uma rainha benevolente, pela qual o conquistado demonstra gratidão, isso se torna perigoso, visto que se transforma numa fantasia de que o colonialismo para a Índia foi sinônimo de prosperidade, visão essa que é destruída com uma pesquisa básica sobre o assunto. O filme é assim, uma visão britânica sobre a relação entre uma soberana e seu servo conquistado.

Tecnicamente, roteiro, direção e figurino são impecáveis. A câmera faz questão de enquadrar detalhes belíssimos de arquitetura, jóias etc.

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Curiosidades

Judi Dench já protagonizou a rainha Victoria em 1997 em Mrs. Brown, filme que retrata sua relação com seu criado John Brown, citado em Victoria e Abdul e com o qual este é comparado pelos membros da nobreza.

Em 2001, a BBC fez a série de dois episódios Victoria & Albert, contando a história de Vitória desde a infância até a morte de Albert em 1861.

Essas são apenas duas produções relacionadas a períodos citados no filme. Há muitas obras audiovisuais sobre esse e outros reinados britânicos para quem é fascinado com a monarquia.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=hAjR1vy9NJI]

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Camila Silvahttp://52.44.60.28
Historiadora, arquivista, mestra em Artes na linha de Cinema. Apaixonada por filmes e séries.
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