Star Wars possui um legado imenso e seria redundante dizer hoje que essa é uma franquia buscando expansão. Se já tivemos algumas produções inspiradas por George Lucas procurando referências semelhantes às que gestaram a primeira leva de filmes, cada vez mais é possível ver uma tentativa de adicionar ideias de outros lugares à franquia, e com isso alguma renovação. Esse é o caso da série The Acolyte, que vai para outro lugar cronologicamente de todo o resto e, a partir disso, tenta apresentar sua própria versão de ideias antes consolidadas.
O programa encabeçado por Leslye Headland (Boneca Russa) acompanha a investigação de uma série de assassinatos que acaba levando as atenções para Osha, uma jovem que não conseguiu completar seu treinamento na Ordem Jedi mas que possui fortes relações com as vítimas. A operação é comandada por Sol (Lee Jung-jae), que também possui um interesse pessoal na resolução desses crimes.
A premissa aqui pode ser um pouco enganosa. Se partimos de um contexto que remete mais à filmes de thriller investigativo, esse aspecto quase não se permite existir na série em si. O mistério e a urgência acabam se podando por uma vontade inicial de trazer mais leveza para a história, tanto visualmente quanto conceitualmente. Praticamente não existe carga dramática no que toca esses crimes, esse investimento acaba indo mais na direção da dinâmica de Sol e Osha que possuem um passado turbulento.
Se temos a oportunidade de voltar no tempo para quando a Ordem Jedi ainda era uma hegemonia, a série não resiste à glorificação do uso de sabres e da força. Visualmente a ação acaba buscando mais referência em filmes de artes marciais do oriente para construir sua ação, o que por vezes é bem interessante e encaixa de maneira natural com o misticismo da franquia. Talvez o que tenha faltado nesse aspecto seja um equilíbrio maior entre o que é desenvolvido tematicamente e o tom de todo o resto.
The Acolyte cria um contraste que poderia ser interessante ao focar seu argumento nas contradições da Ordem Jedi justamente em um dos seus períodos de maior influência. O problema é que esse argumento acaba se diluindo nas próprias contradições que a série propõe para si. O problema do tom, que por vezes apaga a seriedade de algumas situações, somado ao desenvolvimento do mistério principal que parece não saber exatamente como fazer com que as eventuais revelações sejam chocantes ou que tenham um impacto maior na narrativa, acaba podando qualquer investimento nessa história apesar de bons momento pontuais.
Talvez a dificuldade de remendar tantos pontos de referência em uma única obra que pare em pé seja o que impede essa série de encontrar uma voz que realmente se destaque em um mar de conteúdo já um tanto saturado na franquia. De certa forma é um trabalho que já começa ingrato, sofrendo com uma necessidade de manter um padrão mas ainda tendo a obrigação de trazer algo novo. Independente, The Acolyte acaba não justificando suas próprias intenções e se arrasta para uma conclusão muito pouco satisfatória.