qua, 18 setembro 2024

Crítica | Babygirl (FESTIVAL DE VENEZA)

Publicidade

Helina Reijn chamou a atenção dos cinéfilos, em 2022, com seu elogiado longa de estreia, Bodies, Bodies, Bodies. Apesar de pouco conhecida a época, seu filme conseguiu um sucesso considerável tanto com o público, quanto com a crítica especializada, despertando, no mínimo, curiosidade em relação ao seu próximo projeto. Agora, Reijn retorna com seu mais novo filme, Babygirl, que estreou hoje (30/08) no festival de internacional de cinema de Veneza.

Nicole Kidman vive Romy, uma poderosa CEO, entediada com a vida aparentemente perfeita que leva com seu marido e suas filhas. Forçada – por si mesma – a reprimir seus desejos e fantasias, ela se torna sexualmente frustrada e só se permite encontrar momentos fugazes de prazer em sites de entretenimento adulto. O cenário muda quando seu novo estagiário desafiador entra em cena e os dois engatam em uma espécie de relacionamento, que desafia as estruturas de poder entre eles.

Mãe em casa e patroa na empresa, a protagonista está acostumada a exercer autoridade sobre aqueles a sua volta, mas por dentro sonha em ser controlada, entregando parte desse poder e com ele a responsabilidade que o acompanha. A outra face dessa ânsia por ser dominada, é a necessidade de se deixar ser vulnerável para que possa ser cuidada. Por outro lado, Samuel está na base da pirâmide do mundo corporativo, ainda que seja o “homem da relação”, ele é seu submisso no ambiente de trabalho, contudo retorna ao “controle” durante seus encontros. Como uma gangorra de poder que fica constantemente mudando de lado: “homem-mulher”; “chefe-estagiário”; “dom-sub”.

Publicidade

O problema de querer perder esse controle está nas consequências que isso pode trazê-la, já que na vida real, fora dos quartos de hotel, ela é quem tem mais a perder, e ao mesmo tempo em que isso a excita, também a assusta. Infelizmente, é preciso dizer que a sensação de perigo funciona melhor na teoria do que na prática. A diretora que outrora conseguiu criar situações bem tensas em seu primeiro longa, não tem o mesmo êxito aqui. Ainda que a ameaça exista textualmente, seu peso não chega a ser sentido.

Numa espécie de thriller erótico, mesmo que o thriller não seja assim tão eficiente, não chega a comprometer tanto o resultado equilibrado pelo erótico que é o charme do filme. As interações entre os dois podem até lembrar passagens de fanfics, mas a diretora consegue achar o tom certeiro que combina perfeitamente com essa proposta para evitar que sua história fique com ares de Cinquenta Tons de Cinza. Muito disso ela atinge através do humor de desconforto e estilização das cenas coloridas com toques de neon.

A espinha dorsal desse romance disfuncional é o desejo feminino, esse tabu que as mulheres são ensinadas a suprimir até não aguentarem mais. E como uma líder responsável foi capaz de botar tudo a perder na busca de satisfazer esses desejos que lhes foram negados a vida inteira, para alcançar ao lado de alguém um prazer que só conseguia sentir sozinha.

O filme é tão positivamente sem vergonha, quanto sua protagonista, e é isso que o torna tão divertido, a despeito da premissa que poderia facilmente ser um clichê de romance adolescente nas mãos erradas. Babygirl segue sem data de estreia definida no Brasil.

Publicidade

Publicidade

Destaque

Raíssa Sanches
Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
Helina Reijn chamou a atenção dos cinéfilos, em 2022, com seu elogiado longa de estreia, Bodies, Bodies, Bodies. Apesar de pouco conhecida a época, seu filme conseguiu um sucesso considerável tanto com o público, quanto com a crítica especializada, despertando, no mínimo, curiosidade em...Crítica | Babygirl (FESTIVAL DE VENEZA)