sex, 22 novembro 2024

Crítica | Feios

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Embora a Netflix ocasionalmente “acerta”, como fez recentemente com Os Novatos, está se tornando cada vez mais difícil assistir a suas produções. A qualidade é inconsistente, sendo um esforço que busca muito mais a quantidade mercadológica. Confesso que, após dois dias tentando formular uma opinião sobre Feios — um original Netflix dirigido por McG —, ainda me sinto sem palavras para descrever a experiência. Isso não é por falta de esforço, mas porque o filme, para mim, simplesmente não oferece muito “material” com que trabalhar. Feios é um exemplo claro das falhas recorrentes em algumas produções da Netflix: enquanto o filme parece promissor em conceito, a execução acaba se perdendo em meio a uma estética genérica e uma narrativa rasa.

Feios é o tipo de filme que parece ter surgido no “momento errado”, já que chegou anos após o “auge” das distopias adolescentes que dominaram o cinema na década de 2010. O gênero, que já foi extremamente popular com títulos como Jogos Vorazes e Maze Runner, hoje enfrenta um certo desgaste, e Feios não consegue resgatar essa mesma relevância (se é que o gênero um dia já teve). A trama se desenrola em uma sociedade futurista que valoriza a perfeição física acima de tudo, funcionando como uma metáfora óbvia para ideais eugenistas. Nesse mundo, ao completarem 16 anos, todos os jovens são submetidos a uma cirurgia plástica que corrige suas “falhas” físicas, moldando-os em um padrão estético idealizado. A premissa claramente busca explorar temas profundos e muito atuais — sobretudo, no contexto de redes sociais — como a obsessão contemporânea com a aparência e os perigos de uma sociedade que impõe padrões rígidos de beleza.

A analogia com a eugenia fascista em Feios é até interessante, mas, como acontece em muitas distopias, o filme parte de uma crítica superficial ao nosso mundo. Assim como em Jogos Vorazes, que explora a dominação da classe burguesa hegemônica, ou Maze Runner, que foca em um sistema político opressor e manipulador, Feios tenta se inserir no mesmo cenário de crítica social. No entanto, o filme enfrenta um problema comum às distopias: uma crítica que, embora relevante, acaba sendo vazia.

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O principal desafio de Feios está na forma como a distopia é construída. Assim como em outras obras do gênero, o filme oferece um retrato de um mundo ficcional exagerado para destacar problemas reais, mas acaba caindo na armadilha de tornar essa crítica distante de tudo — seja do espectador ou da própria forma. Escrevo isso com a certeza de que nenhum filme precisa ser realista, conversar diretamente com o espectador ou seguir qualquer regra que limite o fazer artístico. No entanto, Feios claramente se propõe a ser um exagero do real para transmitir uma mensagem ao público, mas falha completamente nesse intento.

É impressionante como Feios falha visualmente em praticamente todos os aspectos, resultando em um filme que se afoga em um mar de genericidade. A estética parece derivada das piores características do cinema “marvelizado”, com um visual sem identidade própria e completamente desprovido de inspiração autoral. É um filme que não só carece de criatividade, mas também parece se contentar em ser uma colcha de retalhos de fórmulas visuais. Tudo isso é acompanhado por uma profunda contradição na maneira como o filme se desenrola. Por um lado, a trama parece apressada, atropelando suas próprias ideias e personagens, sem se permitir desenvolver. No entanto, paradoxalmente, essa mesma narrativa acelerada acaba sendo dolorosamente lenta e arrastada, criando a sensação de que suas duas horas de duração se estendem por MUITO mais tempo. O ritmo faz com que o filme pareça interminável, transformando cenas que deveriam ser emocionantes e envolventes em momentos tediosos e desinteressantes. 

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Caique Henry
Caique Henryhttp://estacaonerd.com
Entre viagens pelas galáxias com um mochileiro, aventuras nas vilas da Terra Média e meditações em busca da Força, encontrei minha verdadeira paixão: o cinema. Sou um amante fervoroso da sétima arte, sempre pronto para compartilhar minhas opiniões sobre filmes. Minha devoção? Cinema de gênero, onde me perco e me reencontro a cada nova obra.
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