qui, 21 novembro 2024

Crítica com SPOILERS | Coringa: Delírio a Dois

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É engraçado imaginar a causa e consequência que esses dois filmes passaram. Enquanto o primeiro repercutiu com acusações de ser um filme “perigoso”, com talvez uma incitação de ideias anarquistas, que em olhos errados pode gerar algo ruim (um completo exagero), e assim instigou uma curiosidade e sucesso inevitável do primeiro filme. Já o segundo traz a decisão de ser totalmente contra essa narrativa do primeiro, ele praticamente toma uma curva de jogar fora tudo aquilo que estava construindo sobre o personagem e concluir com uma ideia talvez interessante no papel, mas que no filme é simplesmente covarde.

Uma continuação inevitável e por motivos simples de dinheiro, a sensação causada seria de uma precariedade na parte musical, talvez por conta de uma não familiaridade de Todd Phillips com o gênero. E isso acontece, porém a narrativa geral do filme já é problemática por si só. Ele tenta mesclar esse filme tribunal com debate social e um musical de fundo, e tudo parece bastante vazio e sem algo de relevante para dizer ou agregar com o personagem. Toda a passagem envolvendo o julgamento tenta a todo custo querer um impacto das ações tomadas pelo personagem para a sociedade em si, trazendo esses seguidores que a figura do coringa trouxe devido suas ações, porém o filme não consegue transmitir isso de uma maneira relevante para a trama, é algo que gera mais desinteresse e um ritmo pra lá de quebrado. Tanto que a virada do personagem, abandonando sua persona é de longe o pior momento do filme. Não existe justificativa.

A ideia das músicas se passarem inteiramente na cabeça do protagonista é um desserviço com o filme em si. São momentos repetitivos e que não agregam em nada com a história, nem mesmo os lindos cenários ou uma ideia lúdica entre os personagens consegue salvar. Ele praticamente cansa, interrompe a narrativa principal, que já é problemática, e causa uma repetição incômoda com seu público.

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E o retorno de Joaquin talvez seja uma das poucas salvações do filme. É um ator bem versátil e interessado tanto no filme quanto no personagem. Ele consegue algumas vezes disfarçar o fraco texto ou talvez alguma cena pouco relevante com a trama, tudo isso por causa de sua presença e ótima atuação. Infelizmente essa desconstrução que o filme quer propor com o coringa acaba que o desvalorizando imensamente e anulando diversas boa escolhas de seu filme anterior.

Já Lady gaga, como Lee/Arlequina, tem presença e um bom início de história, porém o filme da metade pro seu final simplesmente anula a personagem, a decisão de Arthur em renegar o Coringa e abandonar toda aquela ideia que estava sendo implantada por sua influência tem a pior consequência do filme que é simplesmente tudo ser jogado fora, inclusive seu relacionamento com ela, que a personagem praticamente desiste e acaba com tudo, como se fosse nada. Existe esse detalhe dela ter mentido sobre sua origem e na verdade ser uma psicóloga que se  internou por simples interesse com a figura do Arthur, mas na verdade isso nunca é realmente explorado pelo filme, o abandono com a personagem joga fora esse diferencial.

Até mesmo a montagem que era um bom ponto do primeiro acaba que se perdendo aqui. A decisão de transitar entre o real e lúdico parece tão porca com os Fade out em tela preta, para deixar o mais claro possível o que é real ou não no filme. Algo que era muito bem trabalhado no anterior, quanto a sanidade e fuga da realidade de Arthur, aqui é simplesmente algo com falta de criatividade e infantil.

E a palavra mais sincera para resumir o longa é a covardia. Fica claro ao seu final com a morte de Arthur, fruto de um ataque de um aleatório no manicômio e em seguida ao fundo, abrindo cortes em sua boca, aí melhor estilo Heath Leadger. Se torna essa cereja desse bolo indigesto que o filme causa em meio decisões ruins, emoções vazias e um abandono com seu personagem, tudo isso talvez por um “medo” de algumas recepções ruins do longa anterior?

O resultado é bem esquisito mesmo, um filme com a mesma equipe, os mesmos atores, uma adição de musical, fora o orçamento bem maior do que seu antecessor: 200 milhões de dólares! Enquanto seu antecessor tinha questões relevantes sobre saúde mental, relações públicas e um bom trabalho audiovisual,  Coringa: Delírio a Dois deixa a marca de um projeto desnecessário e covarde com seu personagem.

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