Em Caracas, acompanhamos Giordano Fonte (Toni Servillo), um escritor napolitano que vagueia por uma Nápoles aterrorizante, mas ao mesmo tempo fascina, uma cidade que ele não reconhece mais após muitos anos. Acompanhado pelo personagem título da obra (Marco D’Amore), um homem da extrema direita prestes a se converter ao Islamismo, ambos buscam uma verdade existencial que parece inalcançável.
Dotado de uma narrativa inesperadamente complexa, que talvez não tenha levado a si própria a patamares mais elevados, pode-se parecer que existem dois filmes diferentes em Caracas: primeiro, uma história a respeito da pavorosa disseminação de ideais neo-fascistas em países europeus e segundo uma fábula existencialista que trata de questões psicológicas enfrentadas por uma personagem que encara batalhas internas ao retornar para seu lugar de origem.
Aderente à popular ideia de uma história complementar outra, Marco D’Amore parece confortável com a premissa e execução de seu segundo longa-metragem, não sabendo, por outro lado, como administrar tantas e boas informações. Construído por meio de uma parceria entre D’Amore e Francesco Ghiacho, tendo como base o romance “Napoli Ferrovia” de Ermanno Rea, o roteiro de Caracas ousa em se fragmentar da maneira como o protagonista Giordano (Toni Servillo sempre se entregando de corpo e alma) escreveria uma de suas obras, abrindo espaço para interessantes momentos onde a metalinguagem se torna predominante.
Ao longo da narrativa, Giordano descreve sua ligação com Caracas, além da situação dos imigrantes árabes nas periferias de Nápoles, destacando a descriminação e o terror enfrentado pelos mesmos diante de uma onda neo-fascista que se espalha pela cidade como um tumor maligno. O amor impossível entre Caracas e Yasmina (Lina Camelia Lumbroso) também se torna um ponto importante da história, assim como a busca pela salvação diante do caos. O cenário urbano, amalgamado às bela paisagens da cidade italiana em uma direção de fotografia que consegue captar tanto as suas beleza quanto os inúmeros infortúnios, dão ao filme a identidade suburbana necessária que foi idealizada logo de início.
O excesso de informações, quando misturada a uma edição ora confusa, ora dotada de interessantes transições, acabam contribuindo para uma pequena “bagunça” de ideias. Por outro lado, a visível vontade de D’Amore de entregar um trabalho competente consegue se sobressair, assim como a ótima química entre seu elenco principal.
Caracas é uma fábula urbana sobre crescimento desenfreado de cidades, seus desafios e memórias. Temas esses recorrentes de um cinema crítico que está em alta para discutir modernidades.