O Clube das Mulheres de Negócios, dirigido por Anna Muylaert (Durval Discos), retrata a crise do patriarcado, ambientado em um mundo imaginário onde os estereótipos de gênero estão invertidos, ou seja, as mulheres ocupam as posições de poder enquanto os homens são criados para serem socialmente submissos. Questões emergentes também são abordadas, não apenas do machismo, mas o racismo, do classicismo e da corrupção, enraizados na cultura patriarcal do Brasil e do mundo.
A trama se desenrola dentro do clube, um local onde mulheres da elite social frequentam, muitas das quais estão envolvidas em casos de corrupção, disputas familiares e outros escândalos, criando um cenário de hipocrisia e dissimulação perfeito para a construção da sátira pensada pela diretora. No primeiro terço, o roteiro escrito pela diretora, funciona muito bem. O suntuoso cenário escolhido funciona como um microcosmo da sociedade brasileira, nele vemos as relações de classe e gênero acontecendo e chocando o espectador. A presença das mulheres como líderes cria uma interessante uma metáfora para a forma como os homens agem no mundo real. As interações entre elas e o constante jogo de aparências tornam o local intrigante e conquistam a atenção do espectador, porém com o passar do tempo a adição de outros elementos e a criação de subtramas acaba levando a narrativa para um turbilhão de ideias que não se encaixam bem na narrativa principal e diluem a mensagem (ou pelo menos a que funcionava muito bem).
A direção de Anna Muylaert é inteligente e a abordagem sobre questões sociais é feita inicialmente feita de modo sincero e brutal. O olhar com que ela disseca as dinâmicas de classe e os desafios das relações de gênero no Brasil é arrebatadora. O problema surge, e atrapalha a história, quando a direção e roteiro começa a misturar gêneros (elementos de terror, comédia, sátira…) e expandir tramas paralelas. O resultado acaba sendo previsível e decepciona. Os diálogos e atuações melhoram um pouco a situação, mas não o suficiente para salvar o filme do lugar comum.
As atuações de Luís Miranda (Meu Nome Não é Johnny) e Rafa Vitti (As Five) são bastante sólidas. No entanto, são as personagens femininas que realmente brilham. Os grandes destaques são: Grace Gianoukas (Bob Cuspe), Cristina Pereira (De Pernas Pro Ar) e Louise Cardoso (Tia Virgínia), que têm papéis fundamentais na trama e unem seu carisma a seu talento para criar personagens interessantes.
O Clube das Mulheres de Negócios é um filme que inicia sua narrativa de modo envolvente e oferece uma crítica refinada sobre a sociedade patriarcal brasileira. Uma pena que do meio pro fim a produção resolva abandonar seu olhar ácido e sincero sobre questões como machismo e desigualdades sociais para focar em outros temas e gêneros que só incham a trama e não acrescentam em nada a um filme que tinha tudo para ser um dos melhores do ano.