seg, 20 janeiro 2025

Crítica | Conclave

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O Papa está morto. Agora, cabe ao Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes) a condução do árduo processo confidencial de escolha do novo Pontífice. Quando os líderes mais poderosos da Igreja Católica de todo o mundo se reúnem nos corredores do Vaticano para participar da seleção, Lawrence se vê no centro de uma conspiração, desvendando segredos que ameaçam sua fé e também as fundações da Igreja.

Retratar o Catolicismo, seus templos e imagens religiosas, como uma Igreja polêmica e repleta de conspirações dentro de uma narrativa cinematográfica não é mais novidade, contanto que se haja uma escolha formal assertiva para caracterizar tais conflitos provenientes da maior religião cristã do mundo. O premiado cineasta alemão Edward Berger, em Nada de Novo no Front, mostrou um curioso contraste entre o caos e a política, sempre intensificando a causa e o efeito para o conflito retratado pela trama para embarcar em um tema também constantemente abordado que é o horror da guerra. Agora, em Conclave, o caótico e o político parecem funcionar silenciosamente como um só, já que a seleção de um novo pontífice, aqui retratado de maneira obviamente ficcional – porém, repleta de referências aos mistérios e ações praticadas pelo Vaticano por debaixo dos panos – é simulada por meio de grande tensão e a cada instante, sendo intensificada pela forma como Berger conduz uma narrativa que prende o espectador na trama de maneira minuciosa, como valorizar cada elemento imagético visto em cena.

Conclave é um suspense construído por meio de etapas que, à primeira vista, se apresentam como diretas e até estranhamente decididas sobre o que deve abordar em sua narrativa. Porém, ao nos depararmos com a minúcia de seus assuntos abordados e na elegância que a produção adota ao transmiti-las para a tela, é percebido que tanto o texto de Peter Straughan (que adapta a obra homônima de Robert Harris) quanto a direção de Edward Berger conseguem elevar a intensidade da trama que, por si, já carrega um alto grau de tensão. Afinal, a seleção de um novo pontífice para representar a Igreja Católica em meio a tantos candidatos que se mostram suspeitos é um assunto delicado e que gera inúmeros conflitos. Mas, quando estes desafios, de fato, vêm à tona, é como se Conclave, graças às suas eximias direção, roteiro, fotografia e elenco, nos surpreendesse com um estrondo avassalador, cujo caos é mascarado pela sua incomparável forma e sua polêmica e ousada mensagem.

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Imagem: Focus Features/Reprodução

Aqui vemos uma cinematografia, assinada com maestria por Stéphane Fontaine (Capitão Fantástico) que valoriza planos abertos em que os personagens são colocados de forma centralizada e quase impotentes em relação ao poder da igreja, assim como também ela consegue passar toda a obscuridade e mistérios da instituição através de iluminações e sombras bem colocadas em cena. A predominância da cor vermelha em meio a um cenário frio e pouco saturado também são peculiaridades que intensificam o suspense do filme, além dos enquadramentos que valorizam principalmente o Cardeal Lawrence, personagem do magnífico Ralph Fiennes, repassando as condições psicológicas dele em tela, que se vê sufocado com a responsabilidade de conduzir um conclave, além de se encontrar em conflito com suas próprias orações.

Passeando entre o sólido e gradual, à medida que sua estética maciça estabelece um vindouro casamento com uma intensidade que se vê aumentando a cada conflito mostrado na narrativa, Edward Berger filma Conclave exaltando suas imagens, destacando os templos e seus personagens posicionados em meio a um cenário repleto de poder. Em meio a suas críticas e alusões à corrupção dentro da igreja católica, é possível identificar como a caricatura da situação se integra ao caos, chegando a promover situações levemente cômicas, mas cheias de significado, como a descoberta das artimanhas do Cardeal Tremblay, interpretado pelo brilhante John Lithgow, e o conservadorismo ameaçador do Cardeal Tedesco, personagem do qual o ator Sergio Castellitto consegue passar uma interessante crítica às ameaças da tomada de poder por indivíduos que pregam ideais retrógrados.

Imagem; Focus Features/Reprodução

Berger não encontra grandes desafios ao conduzir um elenco que está ciente do que se deve fazer em cena. Ralph Fiennes praticamente toma frente da narrativa, porém da melhor maneira, nos guiando para o suspense e mostrando um misto de serenidade devidamente controlada e a descrença de seu personagem, mas também somos contemplados com os exímios trabalhos de Lithgow, Castellito, Stanley Tucci, Isabella Rossellini, Lucian Msamati e Carlos Diehz, sendo este último o intérprete do Padre Benitez e uma grata surpresa, ainda mais quando são revelados os segredos do personagem.

Conclave é um grande exemplo de como desdobrar um thriller político, sem enrolações ou cerimônias. Existe aqui uma interessante amálgama de forma e conteúdo que, não só agrega ao filme uma elegância cinematográfica e narrativa realmente bem idealizadas, como também é capaz de gerar um impacto audiovisual que há muito não é visto e que deve ser contemplado em uma boa sala de cinema.

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