Em 2014, Paddington superou em muito minhas expectativas, que eram, reconhecidamente, baixas. A sequência foi ainda melhor, graças ao seu charme cativante e ao antagonista brilhante interpretado por Hugh Grant, que lançou sua inesperada e muito bem-vinda era de vilão. Esta terceira aventura cinematográfica do famoso urso de Michael Bond – a primeira dirigida por Dougal Wilson – não atinge o padrão estabelecido por seus antecessores. É um filme infantil perfeitamente assistível – a voz de Paddington e seu otimismo inocente continuam tão tranquilizadores como sempre –, porém, o longa não consegue replicar o charme espirituoso que caracterizou os dois filmes originais do escritor e diretor Paul King.
Como o título original sugere, o filme mostra Paddington guardando um sanduíche de marmelada sob seu chapéu e viajando de volta para sua terra natal. Recentemente, ele se tornou o orgulhoso dono de um passaporte britânico após um breve acidente em uma cabine de fotos automatizada. Então, ele recebe uma carta dizendo que sua tia Lucy está em apuros. Paddington não tem dificuldades em persuadir os Browns a fazerem uma viagem em família – a Sra. Brown (Emily Mortimer) está ansiosa por um tempo com os filhos antes que eles deixem o ninho, e o cauteloso Sr. Brown (Hugh Bonneville) vê isso como uma oportunidade de impressionar seu novo chefe americano, amante de riscos.
Chegando ao Peru, a Reverenda Madre (Olivia Colman), responsável pelo Lar para Ursos Aposentados, informa aos Browns que tia Lucy está desaparecida. Com a ajuda de um extravagante capitão de barco fluvial vestido como Fitzcarraldo (Antonio Banderas), os Browns partem em busca de tia Lucy, que supostamente desapareceu na entrada mítica da cidade cheia de ouro, El Dorado.
Apesar da divertida sinopse, a decisão ousada de tirar Paddington de Londres é um risco que não compensa. O encanto de Paddington e Paddington 2 residia na forma como o protagonista interagia com seu novo ambiente em uma Londres idílica, repleta de música de rua contagiante e casas coloridas em tons pastéis. O humor acolhedor surgia da falta de familiaridade do jovem urso com situações cotidianas, como inundar a casa após um pequeno problema com as instalações ou tingir acidentalmente os uniformes de uma prisão inteira de rosa enquanto trabalhava na lavanderia. Da mesma forma, o tom reconfortante do filme se baseava nas interações de Paddington com os londrinos, destacando sua tendência ingenuamente otimista de sempre ver o melhor em todos, mesmo quando rodeado por uma multidão de criminosos endurecidos.
É difícil manter o sentimento familiar de Paddington quando a dinâmica se inverte, e a família Brown deve se adaptar ao novo ambiente da inóspita Amazônia peruana. Essa mudança de foco, combinada com a vastidão da selva, resulta em menos interações de Paddington com estranhos, e o filme, em vez disso, baseia grande parte de seu humor no novo vício em adrenalina do Sr. Brown. Mas para cada piada que acerta, outra erra o alvo.
O filme também tem uma tendência frustrante de exagerar na explicação de pontos-chave da trama. Em vez de seguir os princípios tradicionais de mostrar, não contar da narrativa visual, ele opta por uma abordagem de mostrar, depois contar, e então contar novamente, só por garantia. Por exemplo, quando um personagem age de maneira suspeita, há uma longa conversa confirmando que o comportamento era, de fato, suspeito. E isso acontece duas vezes. Como é um filme infantil, uma certa dose de exposição é esperada, mas mesmo uma criança sonolenta de sete anos não precisa que o filme repita esses detalhes como um professor de matemática revisando as tabuadas.
A melhor cena do longa surge alguns minutos após o início dos créditos. Ambientada na Inglaterra, serve como um lembrete do que tornou essa franquia de filmes tão encantadora e do que falta neste último lançamento.
Em resumo, Paddington – Uma Aventura na Floresta não é, de forma alguma, um filme ruim, apenas fica decepcionantemente aquém do seu potencial. E para os apressadinhos, nada de levantar da cadeira quando os créditos finais subirem, pois há cenas pós-crédito.