Depois que seu marido Mark Darcy (Colin Firth) faleceu durante uma missão humanitária no Sudão, Bridget Jones (Renée Zellweger) segue sua vida de mãe viúva e solteira com seus dois filhos Billy e Mabel. Vivendo nesse looping entre o luto e o desejo de seguir em frente, Bridget é aconselhada por amigos e familiares a voltar à pista e mergulhar na vida profissional e amorosa. Assim, ela conhece Roxster (Leo Woodall), um jovem bombeiro, e o prifessor de ciências Sr. Wallaker (Chiwetel Ejiofor), desencadeando uma série de eventos constrangedores, cômicos e românticos em Bridget Jones: Louca Pelo Garoto.
Há na personagem Bridget Jones, criação da escritora Helen Fielding que reflete a contemporaneidade, um reacendimento de questões que, de certa forma, afetam diversas mulheres na atualidade, como auto cobranças, seguir rótulos impostos por uma sociedade consumista, a sobrevivência diante de uma sociedade estruturalmente machista, além da busca insaciável por um final feliz, sendo este muitas vezes acreditado estar no amor. Desde o primeiro filme da franquia, O Diário de Bridget Jones (2001), adaptação do romance homônimo de 1995, a protagonista, eternizada pela atriz Renée Zellweger – que, mais uma vez, brilha no papel que alavancou para sempre a sua carreira -, enfrenta tais obstáculos que, para ela, colocam em jogo sua felicidade e sentido de viver. Mesmo com situações datadas, sendo algumas até consideradas problemáticas nos dias de hoje – principalmente no primeiro e segundo filme da série, Bridget Jones: No Limite da Razão – as adaptações das obras de Fielding exploram esses empecilhos da vida de uma mulher moderna com uma generosa dose do humor de constrangimentos britânico, amalgamado a comédia água com açúcar e até com um toque de pastelão.
![](https://cloud.estacaonerd.com/wp-content/uploads/2025/02/13111315/cb0d403fec594dd141f136ab5a5bda19-1024x538.avif)
Agora, essa tal mistura entre situações cômicas, sempre bem equilibrada e dotada de um humor capaz de nos tirar risadas confortáveis e longe de serem forçadas, acompanha um novo desafio na vida da protagonista, que é enfrentar o luto, sendo uma mãe viúva com duas crianças para cuidar, tendo ainda que lidar com a solidão e a sensação de estar, a cada dia, sobrevivendo, ao invés de viver. Bridget Jones: Louca Pelo Garoto (Bridget Jones: Mad About The Boy) carrega consigo uma carga emocional que, talvez, seja mais pesada que seus antecessores. Além do drama realista e bem explorado pelo roteiro assinado pela própria Helen Fielding (juntamente com Dan Mazer e Abi Morgan), que em momento algum escanteia os sentimentos da personagem título e está sempre movimentando a sua história com desafios rotineiros, o longa ainda apresenta metáforas às questões etárias da protagonista e a vivência desta no meio social e amoroso em tempos de aplicativos de namoro e redes sociais.
Há momentos interessantes em que Bridget se vê “ameaçada” pela juventude “perfeita”, quando entra em cena a babá Chloe (Nico Parker), personagem esta que, mesmo que de forma sutil, atribui certos ensinamentos e remete lembranças importantes para ela. Existe também uma certa “ameaça” por parte de uma legião de mães que beiram a perfeição, na escola de seus filhos, o que também bate de frente com a autoestima da protagonista. Porém, o que deveria ser o ponto central da trama era a sua relação com um homem quase 20 anos mais jovem, o estereótipo de bombeiro musculoso Roxster (Leo Woodall), conforme o próprio título do filme já menciona, o que, no entanto, não chega a ser o principal foco aqui, apesar de ser um importante ponto da narrativa e desencadear tanto situações cômicas quanto dramáticas. Essa relação também divide espaço com a da protagonista e o cético e metódico professor de seus filhos, Sr. Wallaker, interpretado por um Chiwetel Ejiofor extremamente confortável neste personagem que, apesar de à primeira vista não fazer qualquer diferença na história, se mostra importante e necessário com o desenrolar da trama, ainda mais quando o mesmo interage com o filho mais velho de Bridget, Billy (Casper Knopf).
Se as interações entre a protagonista e as novas figuras que cruzam a sua vida parecem mais sutis, porém repletas de significados, os velhos personagens da franquia, que retornam em participações pequenas, porém significativas, parecem servir, não só de apoio emocional para Bridget, mas como verdadeiros conselheiros para suas ações. Além do grupo inseparável de amigos, composto por Shazzer (Sally Phillips), Tom (James Callis) e Jude (Shirley Henderson), temos também a Dra. Rawlings (Emma Thompson), que apareceu pela primeira vez em O Bebê de Bridget Jones, e o muito que bem-vindo retorno do garanhão Daniel Cleaver, vivido pelo sempre despojado Hugh Grant, que remete o ar de cafajeste do personagem como ninguém, agora grande amigo de Bridget e que conseguiu uma certa redenção de suas atitudes questionáveis nos dois primeiros filmes da franquia. A breve, porém significativa, participação de Gemma Jones e Jim Broadbent, como Pamela e Colin, pais da protagonista, também acendem uma chama de carinho e conforto tanto para a personagem quanto para o público, assim como nos momentos em que Mark, de Colin Firth, aparece em seus pensamentos.
![](https://i0.wp.com/cloud.estacaonerd.com/wp-content/uploads/2025/02/13111525/MixCollage-12-Nov-2024-11-04-AM-5264.jpg?resize=696%2C391&ssl=1)
Repleto de enquadramentos que valorizam a ambientação na cidade e as emoções da personagem, como no momento em que Bridget e seus filhos soltam balões em um ambiente para comemorar o aniversário de Mark, ocasionando uma das sequências mais bonitas e bem filmadas do longa, Bridget Jones: Louca Pelo Garoto dispõe de uma forma tradicional de se fazer uma comédia-romântica dramática, contando, com uma decupagem sem cortes bruscos e uma trilha sonora alto astral de grandes hits, como Modern Love, de David Bowie, e Should I Stay or Should I Go, de The Clash.
Chega a ser inevitável o sentimento de uma agradável nostalgia ao revisitar Bridget Jones em Louca Pelo Garoto. Não pelo saudosismo, que culmina, em grande maioria dos casos, uma revisitação desprovida de alma, e sim devido a uma verdadeira sensação de rever alguém com quem nós importamos e desejamos o bem. Pode-se afirmar que o quarto e (provavelmente) último filme da franquia é uma digna à personagem, que finalmente encontrou seu final feliz, o que também é capaz de atribuir sorrisos e lágrimas ao público, principalmente naquele que a acompanha desde o princípio.