dom, 13 abril 2025

Crítica | Antônio Bandeira: O Poeta das Cores

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 O documentário Antônio Bandeira: O Poeta das Cores reúne fatos sobre a vida e a obra do renomado artista plástico cearense. Biografado e incentivado por Francisco Bandeira, sobrinho do pintor, o filme revela segredos da trajetória percorrida por Bandeira em sua vida pessoal e artística.

 Durante a sua curta e gloriosa passagem no plano terreno, o pintor modernista cearense Antônio Bandeira, além de ter sido um dos pioneiros do abstracionismo brasileiro, levou a arte vanguardista nordestina para o exterior e, através de técnicas variadas entre pinceladas distribuídas geometricamente e a utilização de cores que remetiam ao calor e à calorosa energia da região nordeste do Brasil, ganhou o mundo. Da alvorada alaranjada ao arrebol avermelhado do crepúsculo do encanto do visionário pintor, Antônio Bandeira: O Poeta das Cores é uma obra cheia de afeto e necessidade de passar adiante a vida e obra de um dos nomes mais importantes da arte nacional, porém dentro de seu próprio eixo, podendo, agora, se expandir para novas pesquisas acadêmicas voltadas para a nova geração.

 Com incentivo e pesquisas aprofundadas por Francisco Bandeira, sobrinho do artista, o cineasta Joe Pimentel acompanha, com sensibilidade e senso cinematográfico – a fim de não realizar uma obra de somente apurações jornalísticas e depoimentos, por mais que as pesquisas e registros documentais funcionem por si só -, os passos de Antônio Bandeira reproduzidos por Francisco, principalmente durante a sua primeira migração para a França, onde o artista aprimorou sua técnica e estabeleceu uma vindoura união entre o modernismo brasileiro e as vanguardas europeias. Acompanhadas de interpretações serenas e surpreendentemente reconfortantes das poesias de autoria do próprio Bandeira, na qual percebemos sua verdadeira admiração com a arte de criar e viver, as imagens de apoio registradas por Pimentel complementam a afetuosa ideia de reprodução de trajetória, além de valorizar cores e enquadramentos das paisagens parisienses, cidade da qual o artista escolheu para alavancar sua carreira. No entanto, é perceptível uma ausência de paralelos entre Fortaleza, no Ceará, e Paris, mesmo o documentário mostrando a influência de ambas as cidades na vida de Antônio Bandeira. Caberia aqui uma ideia, de fato, interessante que também colocaria a reconstrução dos passos do artista na capital cearense, desde sua adesão ao Centro Cultural de Belas Artes (CCBA), no início dos anos 40, a consolidação do movimento Modernista cearense, até sua primeira ida para Paris, em 1946.

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  A edição simples de Antônio Bandeira: O Poeta das Cores pode, por vezes, beirar ao simplório, mas é funcional dentro de uma narrativa didática de documentário que pretende explorar cada etapa da vida profissional do artista. No entanto, seu maior êxito foi reunir todas as informações e depoimentos a respeito do personagem central em uma satisfatória 1 hora e 20 minutos, sem parecer exaustivo ou repetitivo. Apesar das estranhas transições em momentos que são mostrados diversos exemplos de suas obras mais conhecidas, é possível não exigir demais da montagem, já que o conjunto da obra atende o que é trabalhado ao longo da produção, sendo este documentário uma apuração de excelência, com imagens de arquivo bem tratadas e utilizadas com o intuito de complementar a história e gerar ainda mais curiosidade sobre a trajetória de Bandeira, sem intenções de preencher lacunas, uma vez que se há muito a ser falado sobre o pessoal e profissional do pintor. Registros raros de suas idas e vindas na sua terra natal são mostrados no longa documental, além de filmagens e fotografias de sua participação na Segunda Bienal Internacional de Arte de São Paulo, no ano de 1953.

Imagem: Sereia Filmes/Reprodução

 Depoimentos saudosos e cheios de admiração de artistas, críticos de arte, colecionadores, curadores e amigos, que conheceram pessoalmente Antônio Bandeira ou tiveram, ao longo de suas carreiras, grande acesso à sua obra, também são condutores do projeto, tendo vital importância ao revelar passo a passo das exposições da qual o pintor participou nacional e internacionalmente, destacando, evidentemente, seus trabalhos em Paris (França) e em Veneza, na Itália. O documentário conta com extensas participações, bem distribuídas, inclusive, para uma metragem tecnicamente apertada, sendo as principais: Roberto Galvão (Artista Plástico), Kadma Marques (Socióloga da Arte), João Spinelli (Crítico de Arte), Julie Verlaine (Professora de História da Arte Contemporânea), Maria Bonomi (Artista Plástica), Halder Gomes (Cineasta, diretor de “Vermelho Monet”), entre outros. Discussões a respeito do acesso à obras artísticas e responsabilidade de museus e colecionadores de repassar a arte para a posterioridade, além de debates de precisões técnicas, que subvertem tabus e preconceitos de vários conservadores da arte a respeito da importância do abstracionismo e toda a sua ideologia, que vai muito além de “rabiscos”, são colocadas em cena, utilizando vários exemplos de Antônio Bandeira para ilustrar o movimento/estilo e destacar sua inventividade no uso das cores e da distribuição de suas formas e objetos utilizados para dar vida aos seus quadros.

 Morto prematuramente em 1967 após um procedimento médico para a retirada das amigdalas, em Paris, Antônio Bandeira estava com toda uma bagagem pronta para elevar ainda mais seu nome e obra, tendo um reconhecimento a nível Wassily Kandinsky e Paul Klee. Através de Antônio Bandeira: O Poeta das Cores, Joe Pimentel e Francisco Bandeira prestam um respeitoso tributo ao artista, assim como também trabalham para que a sua extensa obra seja lembrada pelas próximas gerações, entregando um documentário repleto de afeto, carinho e arte sobre arte.

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