qua, 30 abril 2025

Crítica | Um Pai Para Lily

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Em Um Pai Para Lily (Bob Trevino Likes It), a solitária Lily Trevino (Barbie Ferreira) inesperadamente faz amizade com um estranho online (John Leguizamo), que compartilha o mesmo nome de seu pai egocêntrico (French Stewart). O apoio deste novo Bob Trevino poderia transformar sua vida e fazê-la encontrar o afeto materno na mais inusitada das fonteso.

  Abandono, negligência e, até mesmo, a cruel indiferença dentro do ambiente familiar são, de fato, capazes de trucidar o psicológico de uma pessoa. Longe de se dar por falta de “amor próprio”, argumento este insistentemente colocado por leigos no assunto, a dependência emocional é uma condição verdadeira e cada vez mais comum entre jovens adultos que clamam por encontrar apoio quando se está prestes a cair no precipício. Rumando pelo caminho contrário do que é utilizado, como puro achismo, pela massa que classifica e até mesmo julgar condições nocivas da vida adulta que afetam relacionamentos e desenvolvimentos pessoais, Um Pai Para Lily (Bob Trevino Likes It) procura explorar da maneira mais delicada possível esses assuntos, a ponto de gerar empatia e uma sincera compreensão à respeito do que os protagonistas, interpretados como excelência por Barbie Ferreira e John Leguizamo, vêm passando, compreendendo a necessidade do contato e do afeto entre ambos.

 O retrato da solidão realizado pela diretora e roteirista Tracie Laymon, baseada em experiências próprias na qual a cineasta estabeleceu um inusitado laço afetivo com um completo estranho graças às redes sociais, conversa calma e despretensiosamente com quem encontra um tão almejado afeto nas fontes mais improváveis, o que, funciona devido ao elenco assertivo e a responsabilidade da atriz Barbie Ferreira de repassar, com maestria uma aparente sinceridade na reprodução das emoções da protagonista Lily, todos os impactos dos acontecimentos negativos que testaram sua capacidade de ser feliz. Ignorada pelo pai narcisista, com quem ela dá murros em ponta de faca para reestabelecer uma conexão que jamais existiu, rejeitada em relacionamentos, abandonada pela mãe anos atrás e com uma única amiga na vida, proveniente de seu trabalho de cuidadora, Lily é desenvolvida como um exemplo puro e humano que mostra o fato de ninguém ser feito de ferro. Laymon não hesita em atribuir comportamentos instáveis e dependentes na personagem, mas também constrói para ela uma jornada evolutiva que nos desperta o desejo de simplesmente vê-la se sentir bem. Algo parecido acontece com Bob, do veterano e, como sempre, autêntico John Leguizamo, o co-protagonista que esbanja simplicidade e, tal como Lily, um desejo de ser ouvido, visto, reconhecido por amigos. A doce personalidade do Bob de Leguizamo, também repleta de nuances que são mostradas ao longo da trama, somada à melancolia da protagonista de Ferreira resultam em uma dupla repleta de química, onde os intérpretes até mesmo conseguem superar alguns diálogos que beiram a superficialidade com suas notáveis facilidades em encarar seus respectivos personagens.

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Imagem: Roadside Attractions/Reprodução

 Com personagens de apoio que participam ativamente do desenvolvimento espiritual dos protagonistas, Um Pai Para Lily arranja um espaço para construir bons momentos para seus coadjuvantes que, apesar de não serem completamente interessantes, ostentam de um carisma funcional e a já mencionada participação ativa nas histórias de Lily e Bob. O filme conta com as competentes interpretações de Lauren “Lolo Spencer” – intérprete da amiga Daphne, da qual Lily é cuidadora -, French Stewart – como Robert, o pai indiferente da protagonista – e Rachel Bay Jones – que interpreta Jeanie, a compreensiva e apoiadora esposa de Bob -.

  Ao se estabelecer como uma adaptação cinematográfica de acontecimentos cotidianos, quase retirados de uma leve crônica jornalística que tornava reconfortante o dia mais insípido da semana, Um Pai Para Lily adota uma linguagem fílmica sem grandes recursos personalizados, ou escolhas formais particulares que dessem à obra um merecido diferencial, focando mais em se apresentar e desenvolver como uma conversa amigável, ideia esta que funciona no desenvolvimento textual do longa-metragem, mas que chega a quase comprometer a imagem, o que seria realmente trágico caso Laymon não houvesse utilizado, como forma de expressar sentimentos, o poder de registrar momentos com pessoas importantes e o curioso foco no contraste entre nocividade e remediação presente nas redes sociais.

Imagem: Roadside Attractions/Reprodução

Apesar de minimalistas e discretas, as escolhas formais de Tracie Laymon funcionam para ilustrar o ar tocante e verdadeiramente delicado proposto pela sua escrita, ainda mais quando nos damos conta da, também tímida, fotografia que conta com um perceptível jogo de luz e cores nos momentos de interação entre Lily e Robert (pai biológico da protagonista), marcados por uma falta de saturação e um excesso de penumbras, enquanto as interações da personagem com Bob, seu “pai” adotivo, recebem um melhor trato nas cores e na iluminação. Um artifício visual óbvio e, talvez, um tanto piegas, que, no entanto, é utilizado com sutileza. Nos melhores momentos de química entre Lily e Bob, Laymon captura, por meio de enquadramentos estratégicos, sorrisos sinceros de afeto e conforto de Ferreira e Leguizamo, que compõem o tom leve das sequência de interação entre os personagens.

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  Um Pai Para Lily – que, inclusive, dispõe de uma discutível tradução para seu criativo título original, “Bob Trevino Likes It” (“Bob Trevino Curtiu Isso”, que faz referência a primeira interação entre os protagonistas por meio do Facebook) – é uma obra suave e longe de ser presunçosa ou um retrato caricato da vida adulta e seus desafios, que estabelece uma delicada conversa com seu público alvo e nos faz sentir grande afeição por seus protagonistas, além de bater fortemente na questão da importância de relações saudáveis e que o acolhimento familiar vai muito além de laços de sangue.

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