A 29ª edição do Cine PE foi oficialmente aberta nesta segunda-feira (9), no Recife, com uma celebração marcada tanto pela exaltação do cinema brasileiro quanto por um importante anúncio para o setor audiovisual. Durante a cerimônia, a ministra da Cultura, Margareth Menezes, lançou o edital de Arranjos Regionais, iniciativa do Ministério da Cultura (MinC) que destinará R$ 300 milhões para fomentar produções fora do tradicional eixo Rio-São Paulo.
Ao lado da ministra estiveram presentes o diretor do Cine PE, Alfredo Bertini, o prefeito do Recife, João Campos, e a secretária de Cultura de Pernambuco, Cacau de Paula. O edital prevê que 70% dos recursos sejam destinados a projetos das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, enquanto os 30% restantes contemplarão produções do Sul, Minas Gerais e Espírito Santo. A medida visa descentralizar os investimentos e valorizar a diversidade cultural do país.
A programação da noite de abertura contou com a exibição de cinco produções: quatro curtas-metragens e um longa. O primeiro filme exibido foi o curta Eu Preciso Dizer Que Te Amo, resultado da oficina coordenada por Marlom Meirelles com estudantes da rede pública de Jaboatão dos Guararapes. O documentário, ao mesmo tempo tocante e divertido, mergulha na “breguice” de amar, oferecendo um olhar doce e bem-humorado sobre o afeto e suas formas de expressão. Com simplicidade formal, a produção conquista pela força dos depoimentos — figuras carismáticas que rapidamente ganham o carinho da plateia.
Em seguida, foi exibido Esconde-Esconde, da jovem cineasta pernambucana Vitória Vasconcellos, que integra a mostra competitiva de curtas-metragens pernambucanos. Filmado inteiramente em primeira pessoa, com estética que remete ao found footage, o curta impressiona pelo uso angustiante e preciso da câmera subjetiva. A narrativa é um retrato visceral dos obstáculos enfrentados por mulheres em um país que ainda limita seus corpos e suas escolhas. O resultado é uma obra intensa, imersiva e formalmente refinada.
A noite seguiu com os curtas da mostra competitiva nacional: Liberdade Sem Conduta, dirigido por Dênia Cruz, e Cavalo Marinho, de Léo Tabosa. Encerrando a programação, o público acompanhou a estreia nacional de “A Melhor Mãe do Mundo”, novo longa-metragem de Anna Muylaert, diretora consagrada por obras como Que Horas Ela Volta?.
A primeira noite do Cine PE reforçou não só a vitalidade do cinema brasileiro contemporâneo, como também a importância de políticas públicas voltadas para sua democratização. Com olhares múltiplos, vozes potentes e histórias que abraçam o território e a identidade, o festival começou reafirmando o poder da arte como ferramenta de transformação.