O nome da série é Contagem Regressiva, mas a verdade é que ninguém está contando nada. Nem os minutos, nem os riscos, nem os episódios que faltam. Criada por Derek Haas (Chicago Fire, Chicago P.D.), a nova aposta da Prime Video junta todos os acrônimos possíveis da lei: FBI, LAPD, DEA, DHS… um supergrupo digno de crossover de herói. Só que, em vez de salvar o mundo com estilo, eles circulam por Los Angeles como se estivessem num reality show de caçada urbana sem briefing.
A história começa com a morte de um agente da segurança nacional em plena luz do dia. Daí nasce a Força-Tarefa Furacão, um nome que promete ação, tensão e clima de crise internacional. Promete. Mas o que vem depois é uma série procedural que lembra um episódio perdido de 24 Horas, só que sem relógio, sem urgência e com um vilão que parece saído de um sketch de paródia geopolítica Sim, alguém quer detonar uma bomba nuclear em LA, mas não existe data, hora, nem sequer uma ameaça que pareça real. Nem os personagens parecem preocupados, e olha que o caos iminente incluía comparações equivocadas com Hiroshima e Chernobyl.
Entre uma perseguição e outra, os agentes fazem pausas dramáticas para decidir se a surpresa de aniversário de um colega vai ter bolo ou cupcake. Isso, claro, enquanto a cidade está prestes a virar pó radioativo. Em vez de tensão, temos diálogos repetitivos, personagens que se confundem entre si e uma trama que caminha com a mesma empolgação de uma reunião de condomínio.
O protagonista vivido por Jensen Ackles até tenta injetar carisma em seu agente durão, mas acaba soando como uma versão mais rabugenta do Capitão Nascimento depois de um plantão duplo. Mas ele acaba parecendo mais um catálogo ambulante de clichês do que um personagem real. Jessica Camacho (Oliveras) segura bem a onda, e a química entre os dois até funciona, mas é explorada tanto que o resto do elenco vira figurante de luxo. Nem Eric Dane, de Grey’s Anatomy, escapa da superficialidade — seu líder da força-tarefa passa mais tempo dando ordens genéricas do que construindo qualquer coisa que lembre uma personalidade.
A cidade de Los Angeles até aparece bem na fita. A série desfila por bairros diversos com direito a letreiros em caixa alta e uma estética de cartão postal, mas no fim tudo isso serve só pra tentar camuflar uma trama que não sabe pra onde vai. Os episódios avançam sem ritmo, as viradas são previsíveis ou absurdas, e o décimo episódio, enviado à imprensa, consegue ser um desastre tão tonitruante que parece sátira. Final? Ainda não. Descobrimos que restam mais três episódios, que podem ou não salvar o que veio antes. Ou piorar.
Contagem Regressiva quer ser uma montanha-russa, mas entrega um passeio de carrinho de golfe. Tudo parece genérico: as falas, os conflitos, os vilões, os dilemas éticos de fachada. Nem os plot twists conseguem segurar. A série sonha em estar no mesmo pódio de Reacher, Jack Ryan ou A Lista Terminal, mas tropeça no próprio ego antes de chegar na largada.
Os três primeiros episódios já estão disponíveis na Prime Video, com novos capítulos lançados às quartas-feiras. Se vai melhorar? A gente espera que sim. Mas, por enquanto, a única contagem regressiva que importa é a do tempo que você poderia estar usando pra ver outra coisa.