Atena, uma mulher que sofreu abusos por parte de seu pai na infância, transforma sua dor em determinação para combater a violência contra mulheres. Junto com Helena, outra sobrevivente, elas formam um grupo que atrai, captura e julga agressores, atuando como um tribunal clandestino. O filme nacional tem direção de Caco Souza (400 Contra 1) e conta com Mel Lisboa (Coisa Mais Linda) como protagonista.
Alguns pontos positivos merecem ser elogiados no thriller nacional. O primeiro deles é a ambientação, a trama acontece fora dos grandes centros urbanos e ocorre entre as cidades de Gramado (Rio Grande do Sul) e Montevidéu (Uruguai) mostrando que situações ruins podem acontecer onde menos se espera. Além disso, a fotografia usada para retratar a personalidade da protagonista (que abusa de luz natural) é outra particularidade que merece ser enaltecida. A trilha sonora engrandece as cenas de tensão e dão profundidade ao que vemos. Por fim, Mel Lisboa é a dona do filme e sua atuação é repleta de nuances que variam entre a fúria de uma mulher que busca justiça e a fragilidade de alguém que sofre com seu tortuoso passado.

Infelizmente a produção não atinge todo seu potencial, em especial pela criatividade não compensar o baixo orçamento da produção. As situações ocorrem e se repetem a esmo, o que acaba tirando o espectador da imersão. A direção tenta compensar isso, dando espaço para que o seu elenco brilhe, mas o roteiro escrito por Enrico Peccin (Mato ou Morro) é expositivo demais e repleto de furos, o elenco é esforçado e cumpre os arquétipos solicitados pelo texto. Um exemplo, é Thiago Fragoso (Medusa) que tem seu arco mal desenvolvido e por mais que o ator seja talentoso, ele não consegue agregar em nada na história. Por fim, a as cenas de ação/tensão podem soar repetitivas e previsíveis em alguns momentos, e para compensar isso a direção aposta em uma montagem dinâmica, o que agrada e ajuda a história se desenvolver sem atropelos.
Atena lida com temas pesados como violência contra a mulher e vingança, mas eles não são aprofundados o suficiente para gerar uma repercussão sobre as consequências desses atos. Os temas citados apenas existem e são o que são, por muito pouco a produção não flerta com a banalização da violência como resposta para problemas sociais tão hediondos. Muito disso, se deve a atuação da protagonista que deixa o espectador ciente de que o que ela está fazendo é errado, mas se encaixa em um universo onde ela já esgotou todas as possibilidades de fazer o certo e buscar ajuda.

Atena é um filme que aborda a violência como uma arma e faz da vingança um símbolo perturbador de empoderamento e desespero, em especial, para as mulheres que já foram vítimas de algum tipo de violência no Brasil. Assista e confira essa promissora produção!