Em muitos aspectos, dramas de época sempre foram novelas de luxo. Por mais que tenham cenários exuberantes e um ar de prestígio, boa parte do nosso interesse por produções como A Era Dourada ou The Crown vem de um desejo quase irresistível de espiar os excessos da elite histórica — geralmente com uma boa dose de romance por cima. Os Bucaneiros, da Apple TV+, abraça essa ideia como poucas, transformando a adaptação do último romance de Edith Wharton em uma explosão barulhenta, colorida e caoticamente divertida da juventude — o tipo de energia que faria os moradores de Downton Abbey torcerem o nariz. A série é explícita sobre ser uma história sobre mulheres e para mulheres, buscando criar espaço para experiências e desejos femininos que não se resumem a encontrar um marido com uma bela propriedade. E é difícil não gostar dela por isso.
Se na primeira temporada Os Bucaneiros encontrava um bom equilíbrio entre romance e as histórias de amadurecimento das jovens protagonistas, nesta segunda a série parece, às vezes, incerta sobre o que quer dizer e para onde quer levar suas personagens. Parte do problema é que há simplesmente coisa demais acontecendo o tempo todo: reviravoltas e mudanças emocionais se atropelam, e muitas decisões parecem pouco condizentes com quem esses personagens eram antes. Segredos são revelados quase no instante em que surgem, mudanças de vida acontecem para serem desfeitas um episódio depois, e novas relações nascem e acabam no ritmo de uma troca de cenário. Por um lado, isso deixa tudo acelerado e viciante; por outro, algumas viradas carecem de sentido narrativo ou do peso emocional que mereciam.

A temporada começa exatamente onde a anterior parou. Nan (Kristine Frøseth) agora é a Duquesa de Tintagel, casada com Theo (Guy Remmers). Sua irmã Jinny (Imogen Waterhouse) fugiu para a Itália para escapar do marido abusivo, com ajuda de Guy Thwarte (Matthew Broome) — o verdadeiro amor de Nan —, que foi porque ela pediu. Nan ainda não tem certeza se Theo é mesmo o marido que queria, mas decide tentar fazer o casamento funcionar, contando com a orientação nada calorosa da sogra (Amelia Bullmore). Conchita (Alisha Boe) e Richard (Josh Dylan), com as finanças em baixa, decidem ganhar dinheiro como casamenteiros; Lizzy (Aubri Ibrag) conhece um pretendente; e Mabel (Josie Totah) e Honoria (Mia Threapleton) tentam entender como seria um relacionamento real entre elas.
Visualmente, Os Bucaneiros continua um deleite: festas temáticas, figurinos exuberantes (mesmo sem acurácia histórica), paisagens de tirar o fôlego e uma trilha que mistura música clássica com pop atual — desta vez, com direito a Taylor Swift e Chappell Roan. Mas o que foi o coração da primeira temporada, a amizade entre Nan, Jinny, Conchita, Lizzy e Mabel, aqui perde espaço. Cada uma segue isolada em sua própria trama, e raramente vemos o grupo unido com a mesma cumplicidade de antes. Agora, já estabelecidas como figuras centrais da alta sociedade britânica, as “americanas intrusas” precisam descobrir como agir nesse novo lugar de poder — e o roteiro ainda parece buscar essa resposta.

O elenco segue sólido e carismático, com alguns destaques: Frøseth é mais convincente quando mostra Nan determinada a mudar leis injustas para mulheres e trabalhadores; Aubri Ibrag finalmente dá mais camadas a Lizzy; e Amelia Bullmore brilha como a Duquesa Viúva, ganhando até um arco romântico inesperadamente doce. Leighton Meester, convidada especial, deixa gosto de quero mais.
A verdade é que Os Bucaneiros enfrenta certo “estirão” narrativo nesta segunda temporada, saindo de uma história sobre moças à procura de marido para falar sobre mulheres tentando encontrar seu lugar no mundo, já adultas e casadas. A ousadia e o charme continuam, e há muito para se divertir, mas fica no ar a sensação de que, com um pouco mais de fôlego para as tramas, essa temporada poderia ter sido ainda melhor.
Todos os oito episódios de Os Bucaneiros já estão disponíveis na Apple TV+, com o último lançado em 6 de agosto.