sáb, 6 setembro 2025

Crítica | 3 Obás de Xangô

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O documentário 3 Obás de Xangô história da amizade incondicional entre Jorge Amado, Dorival Caymmi e Carybé, artistas que foram os maiores responsáveis pela criação de um imaginário de baianidade.

Documentar depoimentos, vivências e memórias é de suma importância para o cinema e a posterioridade, que, com o passar do tempo, necessita do máximo de mídias e materiais conteudistas a respeito da valorização de determinada cultura, além do privilégio de grande valor de ter o contato pessoal com quem viveu a história. Essa louvável junção entre o acesso ao material documentado e as convivências se mostra eficiente e com um evidente carinho em 3 Obás de Xangô, documentário de Sérgio Machado que abraça e resgata o quão importante foi a religiosidade de Carybé, Jorge Amado e Dorival Caymmi para o Candomblé e para a história da Bahia, Estado repleto de riquezas e influências de matrizes Africanas, assim como também denuncia o racismo e a intolerância religiosa que perpetuam até os dias de hoje.

Desde seus primeiros minutos, o filme deixa evidente o seu teor didático ao inserir no discurso, até como forma de se apresentar para leigos e desatentos da cultura brasileira que tem suas raizes inegavelmente baianas, o que é um Obá dentro do Candomblé e suas representações como ministros do Orixá Xangô, por meio da narração de ninguém menos que Lázaro Ramos – com uma perceptível paixão por narrar a bela história do seu Estado -. Porém, Sérgio Machado, Gabriel Meyohas, André Finotti e Joselia Aguiar foram felizes em não terem apego somente pelas imagens e sim pelos contextos, elaborando, dessa forma, uma verdadeira poesia com os documentos que valorizam a Bahia e seus 3 Obás de destaque, assim como intensificando o discurso antirracista. A montagem realizada por Finotti é precisa e compacta com maestria um extenso acervo em menos de 1 hora e 20 minutos.

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Navegando entre uma respeitosa nostalgia e um apaixonado tributo a verdadeiros mestres, o documentário mostra como a pintura de Hector Julio Páride Bernabó (Carybé), a poesia para “vagabundos” e “prostitutas” de Jorge Amado e a música de Dorival Caymmi se conectaram com a honra e a justiça de Xangô, além de mostrar como suas vanguardas foram primordiais para o desenvolvimento da população baiana e na quebra de barreiras. Momentos preciosos da amizade de Dorival, Jorge e Carybé (Obá Onikoyi, Obá Arolu e Obá Onâ Xokum, respectivamente) são colocados em cena, sempre acompanhados de contextos que vão do olhar infeliz e distorcido da sociedade dos “bons costumes” sobre o Candomblé, a Capoeira e as demais manifestações populares oriundas da influência Africana, até as crítica enfrentadas pelos artistas em suas obras, especialmente pela sua visão anti-machista à frente de seu tempo e suas protagonistas femininas, como em “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, “Tieta do Agreste” e “Gabriela Cravo e Canela”.

O documentário não deixa de ressaltar a participação significativa de Jorge Amado, Dorival Caymmi e Carybé na religião , mostrando como os 3 amigos foram elevados ao título de Obá de Xangô por Mãe Senhora, terceira Iyalorixá do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá (“Casa da Força Sustentada por Xangô”), em Salvador. Contando com a participação de personalidades baianas de extrema importância na cultura brasileira, como Gilberto Gil, Muniz Sodré, Ayrson Heráclito, Tiganá Santana, Itamar Vieira Jr., Dori Caymmi e Danilo Caymmi, o filme ainda reúne registros de extremo valor do Mestre Camafeu de Oxóssi, Mãe Stella de Oxóssi, de Dona Zélia Gattai, entre outras figuras ilustres e saudosas.

3 Obás de Xangô foi o grande vencedor nos festivais de São Paulo e do Rio, além do Prêmio Grande Otelo do Cinema Brasileiro. Sem obrigatoriamente precisar, até por ser fato inegável, o documentário ainda reforça que o Brasil começou, e segue existindo, graças a Bahia.

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