Tive a oportunidade de entrevistar o lendário e premiado ator Paulo Betti. Com uma quantidade impressionante de filmes novelas e peças em sua carreira, o artista segue a todo vapor, no momento ele está se dedicando ao teatro com o monólogo “Autobiografia Autorizada“
Em nossa conversa, Paulo falou sobre sua peça atual, sua trajetória e os seus planos para o futuro.

Confira a entrevista:
Marcel Botelho: Paulo você está com uma peça em cartaz há 10 anos já, chamada Autobiografia Autorizada. Fale um pouco a respeito da peça.
Paulo Betti: Eu procuro brincar com o título da peça, dizendo que é Autobiografia Auto risada, porque é humor. Na maior parte do tempo, a peça procura ser engraçada e consegue, pelo que tenho visto. Tem alguns momentos de emoção e tem também alguns momentos de poesia. Então, é a minha história de infância e de adolescência. E ela se comunica bem com o público porque o público se identifica. Todo mundo tem um pai, todo mundo tem uma mãe, irmãos, avô, avó. No meu caso, são descendentes de italianos que vieram numa corrente migratória para o Brasil. Minha família se mudou de Capivari e em direção a Sorocaba, para trabalhar nas indústrias que estavam aparecendo especificamente na indústria Votorantim, onde minhas irmãs trabalhavam nas fábricas de fiação e tesselagem. Então, um pouco é essa história de um menino, filho de uma mãe, sétimo filho que uma mãe vingou dos 15 que ela teve. Minha mãe teve 15 filhos, mas só vingaram sete. Então, sou o sétimo temporão. Acho que existe nisso uma especificidade que me animou a fazer uma autobiografia, porque a gente, quando vai contar a sua própria história, é cometido de pudores. O que você pensa, né? Puxa vida, será que essa história vai interessar para todo mundo? Acho isso bobagem, mas passei por isso. Então, ia fazer uma peça que um amigo meu tinha escrito, um monólogo, pelo desejo de ter um monólogo que facilita, no tamanho da equipe, a viagem, a excursão, que é muito importante para nós. Contato com diversos tipos de públicos diferentes, teatros diferentes. Então, nesse aspecto, eu queria ter um monólogo. E, olha, demorou para perceber que o monólogo que eu tinha que fazer era sobre a minha própria história. É claro que isso tem um aspecto ególatra enorme, mas, ao mesmo tempo, quando você conta a sua história pessoal, você está contando a história de todos, de uma certa maneira, de uma geração também. E, no meu caso, eu sinto que o público se estimula a também contar a sua própria história. Todo mundo vem falar para mim… “Eu senti algo parecido.” Estou fazendo esse monólogo há dez anos. Uma condição meio solitária, porque ontem estava pensando isso no camarim, pensando assim, poxa vida, estou aqui sozinho nesse camarim. Mas está sendo muito prazeroso, e o público se identifica, e ri, e se emociona, e isso para mim é o que vale.
Marcel Botelho: Paulo, e todo esse material para o monólogo, como você anotou?
Paulo Betti: Em tudo quanto é pedaço de papel que aparecia pela frente. Por exemplo, eu tomo nota à mão, com caderno, com caderneta. Era uma forma de tomar nota de resolver algumas questões psicológicas até, tentar entender o mundo que eu estava vivendo, a história do meu pai e da minha mãe, como eles se relacionavam, as questões de saúde da minha mãe e do meu pai, como eram meus irmãos. Acho que essa coisa de você anotar funciona como uma psicanálise até. Não sei, pode ser que esteja enganado, mas a reflexão… Quando você anota, você passa por uma reflexão. Por que você anotou isso e não anotou aquilo? O que você vai anotar? Quais são as coisas dignas de nota? Então, quando eu decidi fazer a peça, eu vi que estava tudo escrito, porque a vida inteira eu tinha escrito em pequenos cadernos, em pedaços de papel. Depois, em um período muito grande da minha vida, eu anotei em um cadernão enorme. E acho que isso foi muito positivo para mim.
Marcel Botelho: Paulo, e agora o futuro? O que temos pela frente, além do monólogo?
Paulo Betti: Olha, eu fiquei 40 anos na TV Globo, hoje não estou mais, a emissora tem um novo tipo de relacionamento com os atores, e muitos deles hoje não são mais contratados fixos do elenco, são, vamos dizer assim, por obra, contratados por uma obra. Outros atores também são contratados. O banco de atores da TV diminuiu muito. Mas eu nunca me acomodei com a história de estar contratado na televisão, por isso sempre estive com a minha peça, sempre estive fazendo teatro, sempre estive fazendo cinema. Meu plano é fazer uma continuação dessa peça, que é a Autobiografia Autorizada, uma continuação para os dias atuais, falando de política, falando de bastidores da televisão, de filmes, de coisas que fiz. Então vai ser… Tome Nota, o nome da peça vai ser Tome Nota. Tem três filmes que fiz, que devem sair em breve. Um deles, com o grande cineasta Júlio Bressane. Eu fiz um filme também em Brasília, que me agradou muito, e fiz um filme em uma coprodução Brasil-Itália, que vai sair em breve. Um filme rodado na Itália e no Brasil. Então tem alguns trabalhos no audiovisual. Mas o que depende de mim mesmo e do meu empenho particular é o Tome Notas.
Marcel Botelho: Quais personagens mais marcaram sua carreira?
Paulo Betti: Dois personagens que fiz na televisão marcaram, de certa maneira, por causa dos seus bordões, de um aspecto cômico também que havia neles, o Timóteo e o Théo Pereira.
Marcel Botelho: Obrigado pela entrevista.
Paulo Betti: Muito obrigado.