ter, 23 setembro 2025

Crítica | Wandinha (2ª temporada)

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Três anos depois do estouro que transformou Wandinha no fenômeno adolescente da Netflix, a segunda temporada chega tentando repetir a façanha. Na primeira, a filha dos Addams (Jenna Ortega) resolvia o mistério do Hyde, transformava a escola dos Rejeitados em trending topic e virava meme com sua dança sinistra. Era a outsider perfeita: irônica, cerebral, contrastando com tudo ao redor.

Agora, de volta à Nevermore, Wandinha quer se recolher para escrever seu livro, mas acaba sugada para um novo mistério que envolve a própria família. A série, porém, parece mais preocupada em empilhar tramas e ampliar o universo do que em manter o charme da protagonista. É a “Netflix-ificação” do clássico de Charles Addams: Nevermore virou uma Hogwarts gótica, com acampamentos tribruxos e subtramas que disputam atenção. Popular, Wandinha deixa de ser peça contrastante do tabuleiro; o estranho, agora, parece normalizado.

Essa normalização reflete a ironia da carreira de Tim Burton, diretor que sempre defendeu os desajustados, mas aqui lucra com um circo de estranhezas cada vez mais palatável. A entrada do diretor Dort (Steve Buscemi) na escola simboliza isso dentro da própria trama: ele transforma as diferenças dos alunos em produto, quase uma empresa de excluídos contra normais.

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HELEN SLOAN/ NETFLIX

Enquanto isso, Enid (Emma Myers) protagoniza um arco que recicla a crítica ao triângulo amoroso da primeira temporada. Se antes a dinâmica Wandinha, Tyler (Hunter Doohan) e Xavier dividiu opiniões — e até recebeu comentários da própria Jenna Ortega — agora o foco está em Enid, Ajax (Georgie Farmer) e Bruno. Esse triângulo ocupa boa parte da primeira metade da temporada, substituindo o núcleo romântico anterior e mantendo a presença das relações afetivas como parte da experiência adolescente retratada na série.

Quando acerta, a temporada mostra Mortícia (Catherine Zeta-Jones) confrontando a inconsequência da filha, Gomez (Luis Guzmán) e Feioso (Isaac Ordonez) brilhando com o “zumbi” Slurp e as micro-histórias da Mãozinha funcionando melhor que a dinâmica Enid–Wandinha. Enid cresce, não só pelo seu arco de lobisomem e namoro, mas por destacar os erros da protagonista. O momento “Se Eu Fosse Você” no episódio seis consolida a amizade das duas e sutura buracos narrativos.

Ainda assim, a investigação é uma ponte frágil para as subtramas e as conclusões dos mistérios são simples demais. Sem o momento-dança ou atos heroicos, a série foca mais nas reações de Jenna Ortega do que nas ações de Wandinha. Ela perde duelos e quase morre pelas mãos do ex-namorado. A protagonista se torna passiva, espectadora do que criou na primeira temporada.

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No fim, a segunda temporada é menos astuta que Wandinha. Abraça a evolução literal de um zumbi comedor de cérebros, revela o mistério dos corvos pela metade e dramatiza mortes e mistérios sem segundas intenções. Mesmo assim, os dramas entre Mortícia , Wandinha, Enid e Mãozinha surpreendem ao quebrar expectativas, e Burton resgata a ironia nos dois últimos episódios, mostrando que o roteiro acumulou bons desenvolvimentos. O que salva a temporada e inova a cultura pop é a origem da Mãozinha. Entre Desajustados e Normais, ela se torna a verdadeira protagonista, num tom de cinema B que é puro Addams.

A segunda temporada de Wandinha perde a magia da primeira, mas ainda guarda surpresas suficientes para manter o público curioso.

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Destaque

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