Memórias de um Verão (The Summer Book)é um drama baseado no livro homônimo escrito pelo autor finlandês Tove Jansson. O filme, dirigido por Charlie McDowell, conta a história do relacionamento entre Sophia, uma garota de oito anos, e sua avó, durante um verão que passam juntas – acompanhadas pelo pai da menina – em uma casa localizada numa ilha praticamente intocada por outros seres humanos. Os três precisam se reencontrar em si mesmo e uns nos outros, após uma perda recente que abalou a família.
O filme funciona como um duplo coming of age, no sentido de que Sophia está crescendo rapidamente, enquanto sua avó envelhece na mesma velocidade. As duas lidam com o peso da passagem inevitável do tempo que promete curar todas as feridas. A dinâmica entre elas é o coração da narrativa, as duas demonstram um grande carinho uma com a outra, e se ajudam mutuamente nesse processo de luto que compartilham. A garota sente uma confiança quase cega na avó que, por sua vez, faz de tudo pela felicidade da neta.

O filme, assim como a ilha na qual se passa, tem um ritmo propositalmente lento, desacelerado até quase parar, evocando esse sentimento de pacatez. Não de uma forma entediante, pelo contrário, a passagem paulatina do tempo nos permite sentir com intensidade os sentimentos que a direção pretende transmitir, através da contemplação da natureza e da trilha sonora – que, por vezes, chega a ficar excessivamente apelativa e acaba tirando o peso emocional, ao invés de intensificá-lo, tendo um efeito inverso daquele intencionado.
A história se passa por meio dos detalhes, o diretor evita a tentação de nos explicar tudo verbalmente, os contextos necessários são fornecidos naturalmente através de gestos, olhares e enquadramentos. Um chapéu de palha sugere a ausência de sua dona, a familiaridade com o cenário e as histórias contadas pela avó comunicam a tradição de visitar aquele lugar, a escolha de enquadrá-los em uma porta semiaberta nos mostra a proximidade daquelas pessoas.
Memórias de Um Verão é um filme simples, porém bastante eficiente, sem a pretensão de contar uma história grandiosa ou tratar temas considerados “urgentes” e “importantes”, ele se permite apenas focar naqueles três personagens e suas experiências durante aquele período de tempo e, por meio de suas vivências, comunicar emoções universais que tocam quem assiste.


