qui, 11 dezembro 2025

Crítica | Sorry, Baby

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Algo ruim aconteceu com Agnes. Após passar por um evento traumático, a jovem professora universitária se vê sozinha enquanto todos ao seu redor seguem em frente como se nada tivesse acontecido. Quando sua amiga Lydie resolve visitá-la vindo de Nova York e compartilha a notícia de que está grávida, esse reencontro acaba trazendo de volta memórias e momentos do passado, como a época em que ambas eram pós-graduandas com sonhos e ambições. Sorry, Baby é o primeiro longa-metragem dirigido por Eva Victor, que também estrela como a protagonista Agnes.

Entre o final do primeiro ato e início do segundo, em Sorry, Baby, a câmera está estática centralizada na casa do orientador da tese escrita por Agnes (Eva Victor) durante aproximadamente 15 segundos, logo após a protagonista entrar na residência à convite do professor (Louis Cancelmi). Um plano silencioso e angustiante que, só pelos mínimos detalhes, já nos faz compreender o que realmente está acontecendo, é rompido quando a protagonista sai pela porta de onde entrou, aparentemente desorientada, mas completamente ciente do que se passou. A partir daí, acompanhamos uma jornada de revolta escondida por um silêncio não opcional, mas pela falta de ter quem realmente possa ouvir.

Imagem: A24/Reprodução

Expressar na sétima arte o após de qualquer situação traumática, sobretudo em relação aos maiores medos das mulheres, pode ser mais desafiador do que a responsabilidade e de simular os fatídicos eventos que suscitaram a angústia. Interpretar cada sentimento reprimido e mostrar a vítima em meio a uma crise introspectiva, colocando-a em um cenário claustrofóbico e cheio de gatilhos, tendem a ser funcionais em dramas que mostram a rotina pós-traumática de uma personagem. O que Eva Victor realiza e interpreta com minúcia e comprometimento em Sorry, Baby é pegar todos esses fatores e compactá-los a um drama singular repleto de sobriedade, que não possui a intenção de manifestar como uma obra comovente sobre o trauma da vítima, colocando-a serena e silenciosamente deteriorada espiritualmente em meio a uma sociedade que trata sua situação como mais um caso isolado.

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Em vez de adaptar uma situação pós abuso a uma melancólica narrativa sufocante sobre dor e abandono, Eva Victor, que também assina o roteiro do longa, transmite todo o sofrimento da sua personagem Agnes lidando com a indiferença, fazendo-a sentir-se impotente em meio a um mundo que se importa vagamente com a violência sofrida por ela, batendo de frente com uma dura e frustrante realidade. Abandonada pela própria instituição de ensino que estuda (e, posteriormente, trabalha), tratada superficialmente pela própria melhor amiga (Naomi Ackie) que preferiu mudar de cidade, deslocada pelos colegas de curso e ignorada pela justiça, a protagonista tem consciência de que nada e ninguém ao seu redor fará algo para reverter a situação e, dessa forma, age sozinha, procurando conforto na gatinha adotada por ela, ou até mesmo com o vizinho prestativo (Lucas Hedges), procurando melhorar física e mentalmente a cada dia, encontrando leveza e até risos mesmo que em meio a angústia, arranjando também uma forma de fazer com que outras mulheres não passem pela mesma violência que ela passou. Sorry, Baby tem uma escrita profunda que não necessita de um mar de diálogos que beiram uma verborragia para deixar clara a sua abordagem.

Imagem: A24/Reprodução

Ao abordar o abandono e a certeza da protagonista de que estará travando sua batalha sozinha, Victor utiliza de recursos audiovisuais sutis à primeira vista, no entanto repleto de significados, que vão de closes detalhistas no rosto da sua personagem em um momento de desabafo a ausência de trilha sonora, até filmar os personagens em grande plano aberto, destacando o quão é possível se sentir minúsculo em meio a um mundo que não toma as suas dores. A fotografia de Mia Cioffi Henry acompanha a melancolia e solidão da personagem principal, com cores sóbrias e uma atmosfera fria, além dos planos abertos que parecem lhe consumir.

Sabendo da necessidade de interpretar atualmente uma pessoa abalada pelo trauma enquanto tenta seguir em frente, Eva Victor o faz com maestria e profundidade, mudando de tom sempre quando é preciso. Naomi Ackie, que sempre tem um belo destaque nas produções que trabalha, também brilhante aqui como a melhor amiga de Agnes, Lydie, que desperta no público uma sensação de que sua personagem deveria se importar mais com a protagonista. Completam o elenco Lucas Hedges, Kelly McCormack e Louis Cancelmi.

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Sorry, Baby se prepara por etapas, quase ensaístas, para um necessário desabafo em seus momentos finais, com um discurso poderoso onde diálogo (no caso, um monólogo) se sobrepõe em toda a imagem e atinge seu público alvo como um alerta, seguido de uma mensagem carinhosa de quem realmente se preocupa com futuras gerações.

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Destaque

Algo ruim aconteceu com Agnes. Após passar por um evento traumático, a jovem professora universitária se vê sozinha enquanto todos ao seu redor seguem em frente como se nada tivesse acontecido. Quando sua amiga Lydie resolve visitá-la vindo de Nova York e compartilha a...Crítica | Sorry, Baby