
Com a vida desmoronando ao seu redor, Linda tenta lidar com a misteriosa doença de sua filha, seu marido ausente, uma pessoa desaparecida e um relacionamento cada vez mais hostil com seu terapeuta
“Se eu Tivesse Pernas, Eu te Chutaria” lembra bastante o filme “Mãe”, não só pela abordagem sufocante e um desespero crescente de várias coisas acontecendo ao mesmo tempo, mas também uma narrativa que se alinha de maneira tanto literal quanto na alegoria que busca passar. Diferente do filme citado, aqui, parece existir um maior controle de conseguir sustentar uma história própria além da óbvia metáfora. Vamos acompanhando os diversos causos na vida daquela mãe juntado com a doença de sua filha e um desespero ao perceber que ninguém ao seu redor se importa e ela está praticamente sozinha naquilo tudo.
O longa busca essa individualidade da protagonista desde seu início. Ao estabelecer a câmera em um absurdo close UP no rosto da mãe, e isso é trabalhado diversas vezes, se utilizando bastante do talento de Rose Byrne do colapso estampado em seu rosto, mas buscando resolver tudo da maneira que pode. A própria decisão de não mostrar o rosto da criança é acertada, pois causa um desespero maior não só pela curiosidade, mas pelas constantes irritações que ela causa, constantemente reclamando, chamando a mãe, a própria voz traz essa inquietação com o telespectador. Além disso, combina com essa alegoria do processo de maternidade e espera da criança, da não revelação da figura do bebê, e as necessidades constantes que uma gravidez exige e causos na mãe.

Algo que fica bastante claro até o final do filme é uma não evolução da situação da protagonista. Vamos acompanhando seu sofrimento até o final do longa, e não parece trazer algo diferente do visto na primeira meia hora da história. É apenas um sufoco que vai aumentando e aumentado, e causa mais ansiedade e angústia, porém não evolui a situação dela, ainda mais se tratando de uma alegoria do nascimento de uma vida. E complementando isso, algumas metáforas parecem bem batidas, ainda mais se tratando dessa crescente onda de filmes sobre maternidade, onde basicamente já vimos de tudo e mais um pouco.
O devido cuidado e atenção com a protagonista realmente enaltece a atuação da Rose Byrne. De maneira que acompanhamos um desespero em horas silencioso, apenas se utilizando do olhar, outras de forma mais estourada e desesperadora com as pessoas a sua volta. O trauma e a angustia da maternidade fica estampado a medida que a protagonista percebe que está completamente sozinha.
No final das contas, existe sim uma base interessante para arquitetar o caos da maternidade e a individualidade da protagonista na sua trajetória estressante. Mesmo que falte uma criatividade maior na hora de abordar o tema, o longa permanece interessante até seu final.


