A segunda parte da quinta temporada de Stranger Things não é apenas um avanço decisivo rumo ao final da série. Ela funciona como uma verdadeira carta de amor à cultura pop, reunindo referências visuais, narrativas e simbólicas que atravessam décadas do cinema, da ficção científica ao épico histórico. Os irmãos Duffer elevam o nível do fan service ao extremo — mas sem comprometer a narrativa — espalhando detalhes que vão desde camisas e objetos de cena até recriações de enquadramentos icônicos.
A seguir, reunimos todas as principais referências e easter eggs identificados até agora, com explicações claras de onde aparecem e o que significam.
E.T. – O Extraterrestre: o elo emocional da temporada
A referência a E.T. – O Extraterrestre (1982) é uma das mais explícitas e emocionais do Volume 2.
- Uma das crianças aparece vestindo uma camiseta com estampa que remete diretamente ao universo de E.T., com tipografia e ilustração que evocam os produtos licenciados dos anos 80.
- O figurino não é casual: E.T. sempre foi uma das maiores influências de Stranger Things, principalmente na ideia de crianças comuns lidando com algo sobrenatural enquanto o mundo adulto falha em compreender.
- Além da camiseta, há enquadramentos que reforçam a referência: bicicletas em destaque, silhuetas contra luz forte e cenas que reforçam o tema de amizade, sacrifício e despedida, centrais tanto no filme de Spielberg quanto no arco final da série.
O uso de E.T. aqui não é apenas nostálgico — ele reforça a ideia de que Stranger Things está se despedindo de sua própria infância.
Parque dos Dinossauros: tensão construída em silêncio
A influência de Jurassic Park (1993) aparece de forma visual e sonora:
- Sequências de perseguição em corredores estreitos e mal iluminados (aqui, trocando a cozinha do parque pela lavanderia do hospital) recriam a mesma lógica da famosa cena dos velociraptores na cozinha.
- O silêncio estratégico, quebrado apenas por respirações e sons ambientais, é usado exatamente como Spielberg fez para gerar tensão sem mostrar o monstro por completo.
- Em alguns momentos, o posicionamento da câmera atrás de portas, grades ou vidros reforça a sensação de vulnerabilidade absoluta dos personagens.
É um easter egg que funciona mais no ritmo e na linguagem cinematográfica do que em objetos diretos.
Deu a Louca nos Monstros: o caos visual dos anos 80
A referência a Deu a Louca nos Monstros (The Monster Squad, 1987) aparece principalmente no tom:
- A forma como o horror é misturado com aventura juvenil e momentos quase absurdos remete diretamente ao filme.
- A cena do furacão causado pela fenda no mundo invertido, lembra a cena final do filme!
- Criaturas tratadas como ameaças reais, mas inseridas em um contexto de jovens tentando sobreviver com poucos recursos, reforçam o paralelo.
- Há cenas em que o enquadramento de grupo, crianças em primeiro plano, monstros ao fundo, ecoa diretamente a estética do longa cult dos anos 80.
Essa referência reforça o DNA de Stranger Things como herdeira direta desse tipo de cinema.
Star Wars: o épico disfarçado de série
As referências a Star Wars vão além da estética:
- A estrutura narrativa do Volume 2 segue claramente o modelo do “segundo ato sombrio” da trilogia clássica, equivalente a O Império Contra-Ataca.
- Há cenas que lembram visualmente o treinamento Jedi, com personagens lidando com o controle da mente, medo e raiva como obstáculos reais.
- Alguns enquadramentos amplos, com personagens pequenos diante de ambientes gigantescos e hostis, reforçam o senso de épico espacial — mesmo em um cenário terrestre.
É Stranger Things assumindo definitivamente sua escala de saga.
Gladiador: honra, sacrifício e silêncio antes da batalha
A referência a Gladiador (2000) é mais sutil, porém poderosa:
- Personagens caminham sozinhos por ambientes vastos antes de confrontos decisivos, em cenas que ecoam Maximus entrando na arena.
- Em uma cena específica, uma personagem flutua sobre a terra, assim como na cena da morte de Máximus.
- O uso do silêncio, do vento e da câmera lenta cria uma atmosfera de despedida, como se cada passo fosse potencialmente o último.
- A temática do sacrifício pelo bem coletivo conecta diretamente o arco emocional dos personagens à essência do filme de Ridley Scott.
Horror clássico: Nightmare, Alien e Carpenter
Além dos títulos mais óbvios, o Volume 2 está repleto de homenagens ao horror:
- A Nightmare on Elm Street aparece na forma como o terror psicológico invade a mente dos personagens, misturando sonho, trauma e realidade.
- Alien é lembrado nos cenários orgânicos, escuros e quase vivos, especialmente em espaços que parecem respirar.
- A trilha sonora e o uso de sintetizadores remetem diretamente ao trabalho de John Carpenter, especialmente em cenas de aproximação lenta da ameaça.
Easter eggs internos: a série citando a si mesma
Os episódios também fazem questão de olhar para trás:
- Conceitos explicados nas primeiras temporadas, como as aulas do Sr. Clarke sobre dimensões paralelas, retornam agora com peso real na narrativa.
- Objetos, frases e enquadramentos recriam cenas da primeira temporada, criando um ciclo visual que reforça o encerramento da história.
- Até a forma como os personagens se reúnem em grupo reflete a composição clássica da série em seus primeiros anos.
O Volume 2 da quinta temporada de Stranger Things não usa referências apenas como fan service. Cada easter egg, da camiseta inspirada em E.T. às construções narrativas de Star Wars e Gladiador, ajuda a contar a história de despedida da série.
É uma temporada que olha para trás para conseguir seguir em frente, celebrando tudo aquilo que moldou não apenas Hawkins, mas também uma geração inteira de espectadores.


