A segunda semana de fevereiro, no cinema, não poderia começar de melhor modo: Clint Eastwood (Gran Torino) retorna em grande forma, ele que pra mim é um dos melhores atores e diretores de Hollywood, nos presenteia com um filme reflexivo sobre um premiado horticultor que lutou na 2ª Guerra Mundial e aos 90 anos foi preso pelo DEA (polícia federal especializada em narcóticos dos Estados Unidos), após transportar uma carga de 3 milhões de dólares em cocaína, trabalhando para o Cartel de Sinaloa, do México. O que motiva um senhor de aparência tranquila a se envolver com uma atividade tão repulsiva? Com essa questão em mãos Eastwood constrói uma trama envolvente.
Esse deve ser o último trabalho de Eastwood como ator e diretor. E não foi atoá que o mesmo escolheu esse papel e trama. Na sua primeira cena, o longa pinta através de uma bela montagem o retrato de nosso protagonista: um ser dúbio. Aos amigos ele é uma pessoa mão aberta, aquele a quem você recorre quando está mal. Um verdadeiro amigão com o coração do tamanho do mundo. Para a família o mesmo é um homem distante, frio e que prioriza o trabalho acima de tudo. Duas faces de um mesmo homem. Um homem singular como você irá confirmar ao fim da sessão.
Assim como visto em Gran Torino, Eastwood trás uma simplicidade narrativa encantadora. Além de usar alguns artifícios bem comum em suas histórias como a xenofobia, o preconceito velado dos americanos aos latinos e negros e o orgulho de ser americano, o diretor consegue acrescentar camadas de humor a trama, além de nos apresentar um homem que a todo momento erra em suas atitudes, mas erra por tentar fazer o bem. As viagens que nosso protagonista faz transportando drogas são em sua maioria recheadas de bom humor e deve arrancar algumas risadas dos espectadores pelas situações que esse “bom velhinho” se mete.
Porém nem tudo são flores. O filme tem alguns problemas. O diretor decidiu dividir a trama em três sub-tramas que ocorrem em paralelo. A primeira, é melhor de todas, foca no nonagenário em sua vida criminosa recheada, de aprendizado (o mundo mudou e ele tenta se encaixar nele) e tensão. A segunda (meio desnecessária) é o cartel que contrata “El Tatá” (como é conhecido o personagem de Eastwood) e a última é o foco no progresso da investigação policial que começa a surgir em torno dele. As duas últimas sub-tramas criadas não tem tanto tempo em tela e nem mostram novidades narrativas. Outro ponto negativo é a falta de vibração da trama (não espere perseguições mirabolantes ou cenas impactantes) o filme tem um bom ritmo, mas zero vibração em especial na investigação que é recheada de burocracia.
O elenco juntamente com Eastwood tem uma bela performance, Bradley Cooper (Sniper Americano), tem um papel pequeno, mas importante. Outro destaque é Andy Garcia (O Poderoso Chefão II), no papel de um chefão do tráfico. A relação com a família é a melhor de todas as interações.
A Mula é um filme que cumpre a sua proposta de apresentar a história de um homem solitário que buscou redenção de modo errado. Clint Eastwood entre erros e acertos consegue trazer o melhor do seu modo de fazer filmes nesse longa. Espero que possamos ver mais deste brilhante ator/diretor em breve.