Boas histórias no cinema sempre tem um início interessante, um meio bem desenvolvido e finais de tirar o fôlego. Uma vez ou outra essa ordem é alterada, mas no geral sempre temos algo próximo do conhecido “começo, meio e fim”. Mundo em Caos, nova aposta da Lionsgate em emplacar uma trilogia de filmes baseada em uma série literária, é o início do fim de uma franquia. O longa começa sua história com uma proposta interessante e… Fica apenas na eterna promessa de que em algum momento, vai desenvolver algo realmente fascinante, mas isso nunca se concretiza.
Em um futuro não muito distante, em um mundo onde as mulheres desapareceram e os homens foram afetados pelo “ruído” – uma força que deixa seus pensamentos audíveis – Todd Hewitt (Tom Holland) encontra Viola (Daisy Ridley), uma jovem misteriosa que aterrissou em seu planeta. Com Viola correndo perigo, Todd jura protegê-la e colocá-la fora de perigo. Para salvá-la, Todd terá que controlar seu “ruído”, descobrir sua própria força e desvendar todos os segredos sombrios que seu planeta e sua comunidade guardam. O roteiro escrito pelo quarteto Lindsey Beer (Sierra Burgess é uma Loser), Gary Spinelli (American Made), Patrick Ness (autor do livro) e Christopher Ford (A Viatura) poderia ter focado em diversos temas nessa narrativa, um deles que nunca é discutido é a questão da privacidade nesse novo mundo, que se fosse bem trabalhado poderia render mais do que o foco escolhido pelos roteiristas, que foi: a interação da dupla protagonista. Pense numa dupla de protagonistas que é insípida. Pensou? Multiplique por 2 e chegará na deste filme. A trama basicamente é sobre a jornada de Tom Holland, que faz bobagens aqui e ali, se arrepende, conduz a donzela em perigo e descobre alguns segredos que não mudam muita coisa na história.
A direção de Doug Liman (No Limite do Amanhã) erra em muita coisa, erra em não conseguir desenvolver o mistério relacionado ao ruído, erra ao propor respostas confusas e que pouco convencem e principalmente por levar 80% do longa em banho maria. O filme quase não possui ação e se arrasta em muitos momentos, se tornando maçante. Fica a sensação que o diretor não sabia como adaptar a obra, e que preferiu fazer deste filme um primeiro capítulo de algo maior que virá (ou não) na sequência.
Os efeitos visuais são bem feitos e corretos, mas não temos nada memorável. O melhor uso da tecnologia aqui é vista na construção dos “ruídos”, que são construídos de modo dinâmico e que não atrapalham em nada a percepção de quando o personagem fala ou pensa. Esse é o maior acerto do filme e merece destaque. No quesito atuação, as coisas são regulares ou bem ruins. Daisy Ridley (Star Wars) está apática e não convence. Tom Holland se esforça, mas sua atuação varia entre um esteriótipo e outro. Mads Mikkelsen (Druk) não é tão ameaçador quanto acha que é em suas cenas, mas comparado a Ridley merece um Oscar por sua atuação nesse filme. David Oyelowo (Selma: Uma Luta pela Igualdade) é desperdiçado no longa.
Mundo em Caos é uma introdução demorada, enfadonha e que não deve fazer a alegria dos fãs da série literária. Para um filme que trabalha com “ruído”, temos muito barulho por nada.