“Que horas ela volta” foi o principal vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, em cerimônia realizada na noite desta terça-feira, no Teatro Municipal. O filme de Anna Muylaert ganhou em sete categorias: longa de ficção, direção, atriz (Regina Casé), atriz coadjuvante (Camila Márdila) e montagem, além de ter sido considerado o melhor longa pelo júri popular. Logo atrás ficou “Chatô, o rei do Brasil”, de Guilherme Fontes, com cinco troféus Grande Otelo: ator (Marco Ricca, que não compareceu ao evento), roteiro adaptado, figurino, maquiagem e direção de arte. “Chico, artista brasileiro”, de Miguel Faria Jr.; foi premiado como o melhor longa documentário de 2015.
— Em janeiro do ano passado, exibi esse filme em Sundance. De lá para cá, foram 22 meses. Viajei e levantei muitas questões. A partir de quinta-feira, vou tirar férias. Para mim, esse momento representa o fim de um ciclo, estou muito emocionada — disse Anna Muylaert.
Mas talvez o grande destaque da noite tenha sido os temas contemporâneos que movimentam a sociedade brasileira. Marcada por momentos de improvisos e algumas gafes, a cerimônia, dirigida por Rafael Dragaud (que entrou no lugar de Ivan Sugahara), foi pontuada do início ao fim por manifestações políticas e apelos pela diversidade social, cultural, racial e sexual, além de ter recorrido a recursos tecnológicos que buscaram aproximar o evento das redes sociais.
Logo no início, os mestres de cerimônia Cris Vianna e Fabrício Boliveira subiram ao palco e, em vez de fazer o tradicional monólogo de abertura, digitaram no celular as palavras de boas-vindas. Depois, pediram que os espectadores participassem enviando mensagens pelo Twitter, que foram projetadas no cenário durante toda a noite. E pediram ao público presente no Teatro Municipal: manifestem-se.
Imediatamente, começaram os gritos de “fora, Temer”. A partir daí, o mantra foi repetido praticamente por todos os vencedores do prêmio mais importante do cinema brasileiro. Ao longo de duas horas, o palco foi ocupado por pessoas negras e transgêneros, num aceno à necessidade de inclusão não apenas na sociedade, mas também no audiovisual. Durante o segmento que homenageia as personalidade mortas durante o ano, o rapper mineiro Flávio Renegado usou uma camisa em que se lia “A PM matou Pixote”. O ator Breno Viola, que tem Síndrome de Down e é um dos protagonistas de “Colegas” (2012), de Marcelo Galvão, ficou responsável por apresentar as categorias dedicadas às trilhas sonoras.
Veja a lista de premiados:
MELHOR LONGA-METRAGEM DE FICÇÃO: “Que horas ela volta”, de Anna Muylaert.
MELHOR DIREÇÃO: Anna Muylaert, por “Que horas ela volta?”
MELHOR ATRIZ: Regina Casé, por “Que horas ela volta?”
MELHOR ATOR: Marco Ricca, por “Chatô, o rei do Brasil”
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Chico Anysio, por “A hora e a vez de Augusto Matraga”
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Camila Márdila, por “Que horas ela volta?”
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: “Que horas ela volta?”
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: “Chatô, o rei do Brasil”
MELHOR DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA (empate): “Sangue azul” e “Órfãos do Eldorado”
MELHOR MONTAGEM DOCUMENTÁRIO: “Chico – Artista brasileiro”
MELHOR MONTAGEM FICÇÃO: “Que horas ela volta?”
MELHOR EFEITO VISUAL: “A estrada 47”
MELHOR FIGURINO: “Chatô, o rei do Brasil”
MELHOR MAQUIAGEM: “Chatô, o rei do Brasil”
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE: “Chatô, o rei do Brasil”
MELHOR CURTA-METRAGEM ANIMAÇÃO: “Égun”, de Helder Quiroga
MELHOR CURTA-METRAGEM DOCUMENTÁRIO: “Uma família ilustre”, de Beth Formaggini
MELHOR CURTA-METRAGEM FICÇÃO: “Rapisódia de um homem negro”, de Gabriel Martins
MELHOR TRILHA SONORA: “Chico – Artista brasileiro”
MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL: Zbigniew Preisner, por “A história da eternidade”
MELHOR SOM: “Chico – Artista brasileiro”
MELHOR FILME ESTRANGEIRO (JÚRI POPULAR): “O sal da Terra”
MELHOR DOCUMENTÁRIO (JÚRI POPULAR): “Betinho, a esperança equilibrista”
MELHOR LONGA (JÚRI POPULAR): “Que horas ela volta?”
MELHOR LONGA-METRAGEM COMÉDIA: “Infância”, de Domingos Oliveira
MELHOR LONGA-METRAGEM ANIMAÇÃO: “Até que Sbórnia nos separe”, de Otto Guerra
MELHOR LONGA-METRAGEM ESTRANGEIRO: “O sal da terra”, de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado
MELHOR LONGA-METRAGEM DOCUMENTÁRIO: “Chico – Artista brasileiro”, de Miguel Faria Jr.
Fonte: Globo.com