sex, 22 novembro 2024

Crítica | 7 Prisioneiros

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Existe uma certa separação entre as narrativas apresentadas por 7 Prisioneiros que constituem uma visão realista sobre o processo exploratório e análogo a escravidão que permeia o sistema capitalista e suas instituições primárias. Claro que, no caso deste longa, a situação apresentada necessita de uma dramatização acentuada para se tornar – numa primeira vista – um suspense de fuga. Mas é nessa conversa entre temas e dramaticidade que, aos poucos, somos introduzidos ao seu verdadeiro objetivo: uma análise sobre os movimentos cíclicos que garantem o funcionamento da roda do capital.

7 PRISIONEIROS (L to R) RODRIGO SANTORO as LUCA, CHRISTIAN MALHEIROS as MATEUS in 7 PRISIONEIROS movie. Cr. ALINE ARRUDA/NETFLIX © 2021

Num primeiro momento, a construção de uma fuga como objeto central da trama aparece como fio condutor para denunciar condições desumanas de trabalho aportadas por políticas violadoras dos direitos trabalhistas. A união entre os quatro trabalhadores aprisionados por Luca (Rodrigo Santoro) coloca – de jeito bem evidente – a dicotomia entre patrão e proletário dentro da representação de “nós contra eles” bem característica de filmes marxistas. O ruído encontra-se na transição para dar foco no real protagonista e no esquecimento dos outros personagens. Mesmo que já estivesse perceptível essa separação, não deixa de ser visível essa ruptura entre as partes do filme.

Para que exista tal desenvolvimento do ciclo, se faz necessário estabelecer a vítima do sistema e quais são seus motivos para se integrar ao mesmo que tanto a maltratou. Nessa dinâmica de regressão moral e ética pela sobrevivência no mundo capitalista, Mateus (Christian Malheiros) é o escolhido para ser o avatar da desvirtuação humana perante às condições sufocantes causadas pelo homem e sua sistematização. A troca de posicionamento de oprimido para opressor funciona como expansão do debate para além de uma situação fechada e são apresentadas questões tangenciais às condições como trabalhadores imigrantes e o mercado da prostituição.

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7 PRISIONEIROS. CHRISTIAN MALHEIROS as MATEUS, in 7 PRISIONEIROS movie. Cr. ALINE ARRUDA/NETFLIX © 2021

Como comentado acima, todo o contexto para falar sobre a violência ocasionada pelas recorrentes práticas do sistema são elevadas para dar urgência à trama, porém, cabe fazer uma pontuação para o manejo do diretor Alexandre Moratto com tais tópicos. Moratto balanceia de forma muito satisfatória o drama da ficção e a vontade de expor a realidade, sem nunca perder a dosagem e cair num sensacionalismo barato que facilmente poderia caminhar o longa. Quando precisa trazer um ou outro elemento dramático, faz de maneira condizente com o apresentado e usa do ambiente da cela dos presos e o ferro-velho onde trabalham para caracterizar o peso solicitado pelas cenas.                  

O que parece desencaminhar o longa é justamente sua verdadeira proposta. Talvez pela vontade de saltar entre perspectivas e suas percepções do assunto, acabe por faltar com certa resolução dos temas debatidos ou com a presença deles. Conforme vai se revelando, parece acelerar suas posições para dar tempo de trazer todos os assuntos de seu interesse, muitas vezes deixando por osmose o que poderia ser melhor utilizado. O final em aberto nem chega a incomodar, mas os caminhos para chegar até ele se mostram apressados e pouco fora de conexão com o resto.

7 PRISIONEIROS (L to R) RODRIGO SANTORO as LUCA, CHRISTIAN MALHEIROS as MATEUS in 7 PRISIONEIROS movie. Cr. ALINE ARRUDA/NETFLIX © 2021

É de certo interesse um filme desses chegar por meio da Netflix – não pelo histórico da plataforma, que já se provou favorável a métodos mercadológicos predatórios -, mas do possível alcance ocasionado por sua popularidade entre os streamings. Seria trágico, se não irônico, um filme sobre as práticas sufocantes do capitalismo chegar pelas mãos de uma das maiores empresas atuais, fomentada por um discurso tão cínico quanto suas desculpas para não colaborar com as políticas de incentivo à cultura e indústria audiovisual no país. De toda forma, as vias para chegar ao material final não entram nessa discussão, o que importa é que cada vez mais temos produtos nacionais surgindo e, seguindo essa lógica, a plataforma é muito mais que bem-vinda.

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Gabriel Lunahttp://estacaonerd.com
Jornalista que se aventura no mundo da crítica de cinema. Gosto de café e filme em preto e branco.
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