É muito comum na linguagem cinematográfica, você mostrar mais e dizer menos, tanto que o cinema surgiu dessa base: imagens em ação. A percepção no novo longa da diretora ucraniana Maryna Er Gorbach, ambientada na disputada região de Donetsk, no leste da Ucrânia, é que as guerras podem ser travadas de mais de uma maneira. O caminho clichê é escolher um lado e pegar em armas. Mas também é possível lutar a própria guerra. E isso, sugere Gorbach, é algo que as mulheres fazem muito melhor do que os homens. Irka, a esposa rural no centro de Klondike, está desafiadoramente encarando uma guerra junto a outra guerra. Em Klondike, os futuros pais Irka e Tolik vivem na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia, território disputado na guerra de Donbas. A expectativa pelo nascimento de seu primeiro filho é violentamente interrompida quando o acidente com o voo MH17 eleva a tensão que envolve sua aldeia. Os destroços iminentes do avião caído e o número de enlutados enfatizam o trauma surreal do momento. Em meio a incerteza da vida do casal nessa zona de guerra, os danos à casa e ao vilarejo, a estrutura de suas vidas é permanentemente alterada. Enquanto os amigos separatistas de Tolik esperam que ele se junte aos seus esforços, o irmão de Irka fica furioso com as suspeitas de que o casal tenha traído a Ucrânia. Irka se recusa a ser evacuada da região mesmo quando a aldeia é capturada pelas forças armadas, e ela tenta fazer as pazes entre seu marido e irmão, pedindo-lhes que consertem sua casa bombardeada. Talvez o maior feito de Klondike- A Guerra na Ucrânia é seu trabalho de câmera e ambientação, a diretora tenta trazer o mesmo sentimento que seus personagens estão passando, aquele silêncio incômodo, a incerteza do que virá, de onde vem. O história do casal do filme é bastante atemporal, aquilo poderia estar acontecendo em qualquer lugar do mundo, e com eventos tão recentes acontecendo em nosso planeta, o casamento do filme com a realidade nunca foi tão preciso.

Em sua mise-em-scène, Gorbach encontra maneiras sombriamente cômicas de impor essa situação a Tolik e Irka. Com esse buraco literalmente trazendo uma janela para suas terras agrícolas à vista, começa a parecer menos com o que realmente “é”, e mais uma metáfora absurda para a necessidade de seguir em frente com as dificuldades da vida e um relacionamento enquanto o teto metafórico cai. Interessante perceber que aquele cenário catastrófico da guerra começa a fazer parte da rotina do casal, com uma urgência crescente, a gravidez de Irka começa a se destacar como algo maior que aquela guerra, e constantemente no filme é visível essa interferência dos eventos em sua gestação.
Infelizmente o filme não consegue se sustentar por inteiro, apesar de possuir seus 15 minutos poderosos e um final forte, é perceptível os momentos “tediosos” do longa, a ideia de mostrar mais e falar menos acaba que cansando ou tirando o telespectador da ideia do filme. Mesmo que seja interessante acompanhar a rotina desse casal, acaba que nossa atenção é apenas novamente alcançada nos trechos finais, por conta do clímax da obra.
Klondike: A Guerra na Ucrânia se destaca pelo ótimo trabalho cinematográfico, sua importância contextual e um sólido trabalho de atuação. Em tempos extremamente delicados, o lançamento desse filme se torna uma pequena bandeja para esse momento tão crucial que a Ucrânia está passando, um quadro para as pessoas que são realmente afetadas pela guerra.