qui, 19 dezembro 2024

Crítica | Desterro

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Desterro, novo filme de Maria Clara Escobar chega aos cinemas brasileiros com energia caótica e uma potência que demora a aparecer. A história acompanha Laura e Israel, um casal que não aparenta possuir mais a conexão forte que já teve. Suas conversas parecem desinteressadas, o afeto é algo distante e no meio desta situação ainda existe a tarefa de criar um filho. O sentimento de insuficiência faz com que Laura decida partir em uma viagem para longe de casa e as consequências de sua decisão irão abalar todos a sua volta.

O filme possui uma abordagem particular para os diálogos e a atuação onde conversas jamais parecem algo natural (salvo exceções). Palavras são ditas como em um fluxo de consciência que mais parece uma confissão. São histórias que comoveram os personagens contadas de uma maneira que simula um momento contínuo de catarse como se todos estivessem saindo de uma situação de pressão e finalmente falassem o que realmente pensam sobre algo. Uma coisa interessante, porém, é que mesmo dentro dessa estrutura de diálogo ainda existem nuances nas interações que acabam revelando mais camadas sobre a natureza dessas relações.

Esteticamente falando, o filme se apoia em um estilo de filmagem que prioriza investigar os ambientes com close-ups e simbolismos para tentar criar novas relações entre texto e imagem. O problema aqui é que essa escolha acaba atrapalhando diretamente o ritmo da história uma vez que essas relações acabam por vezes sendo apenas repetitivas, tornando o passar do tempo no longa uma coisa muitas vezes pesada e sem sentido.

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O filme acaba ganhando força apenas quando se permite explorar essas pequenas catarses em forma de relato a partir de seu terço final, afinal, relatos geram empatia. Cada pessoa possui sua vivência única e é difícil se colocar no lugar do outro quando existe um distanciamento tão grande entre formas de se experienciar a vida. Vivemos experiências possibilitadas por complexos processos históricos que constituem o mundo, sendo assim são necessárias formas de nos aproximar um do outro e um destes artifícios são os relatos. 

A forma como o filme tenta costurar essas falas é tão caótica quanto todo o resto, porém. O sentimento que fica é de que talvez em uma experiência de curta, essa estética e proposta se adaptariam melhor uma à outra de maneira um pouco mais natural. O filme acaba minando suas ideias com uma tentativa insistente de parecer profundo mas parecendo na verdade apenas derivativo e confuso.

Desterro possui uma proposta interessante que se perde em sua própria feitura, apesar de possuir sim momentos potentes. É um filme que talvez se alongue mais do que deveria, podendo brilhar em um envelope mais enxuto mas que denota também um olhar sensível de realizadores que podem entregar muito mais

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Fabrizio Ferro
Fabrizio Ferrohttps://estacaonerd.com/
Artista Visual de São Paulo-SP
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