O longa-metragem “A Primavera”, dirigido pelos pernambucanos Daniel Aragão e Sérgio Bivar, terá sua estreia, no dia 23 de outubro, no Recife, no Moviemax Rosa e Silva, Zona Norte da Capital do Estado. Com classificação indicativa de 16 anos, o filme ambientado numa Recife decadente e melancólica, acompanha o poeta de rua Jeová (Luiz de Aquino), que busca inspiração e reconhecimento. Sua vida começa a mudar depois que uma figura misteriosa passa a comprar suas poesias, e ele conhece Maria Suzanne (Eduarda Rocha), uma garota de programa. Tendo que encarar seus fantasmas e desejos numa sociedade onde tudo se mede por dinheiro, esses personagens marginais embarcam numa jornada de autodescoberta poética e delirante.
Em sua primeira imersão no cinema, Sérgio Bivar, que também assina o roteiro, conta que a ideia do filme apareceu no Bar Central, conhecido reduto boêmio do Centro do Recife. Por lá, sempre passava um poeta chamado Haroldo, panfletando poesias – uma fotocópia na metade de um papel A4, com um pot-pourri de poesias dele e de poetas renomados. “Além do conteúdo, o que distinguia aquele papel de um mero informe publicitário era que a entrega estava condicionada à contrapartida de alguma moeda, não somente para ajudar na sua subsistência, mas implicando também no seu reconhecimento como artista. Então, o filme mostra a luta para viver da arte e o reconhecimento, em meio a uma distopia urbana que desumaniza. Outro ponto que quis explorar, era a ideia de que o dinheiro possui uma natureza fáustica, assim como a tropicalização desse conceito”, fala.
O roteiro surgiu na forma de imagens, não se traduzia simplesmente em palavras. O objetivo também foi o de dar um protagonismo à cidade abraçando suas contradições. Apesar da estrutura esquemática toda roteirizada, os diretores queriam que o conteúdo fosse maior que a forma. Além disso, o fato de ser uma produção de baixo custo acabou dando mais liberdade e tempo para que os atores e a cidade pudessem se expressar. “Há um tanto de bricolagem, pois a filmagem da obra não representou um acontecimento na cidade, não houve fechamento de vias, equipe policial, nada parou. Ela somente aconteceu dentro das possibilidades que se abriam, o resultado foi um verdadeiro presente. Seria impossível refilmar ‘A Primavera’”, enfatiza Daniel Aragão.
Ao assistirem à obra, os diretores esperam que o público relaxe e curta o passeio, que estejam abertos tanto para o humor quanto para a poesia e não entrem na sala com pré-julgamentos. “Imaginamos também que o longa sirva para as pessoas sentirem e refletirem, que possam buscar, muito além das sensações, os sentimentos. A produção apesar de ter uma chave político-filosófica, como todo filme que trata de uma cidade, não prega um posicionamento e não panfleta. Ao invés disso ele revela feridas, paradoxos, e busca diálogos com o simbólico. A trama dialoga com um público universal. Uma primavera que nunca chega, assim como um fim do mundo que não se consome, é um retrato de uma urbanidade distópica, que de forma alguma é exclusividade nossa”, afirma Sérgio Bivar.