Para entender, de fato, o que significa um Estado totalitário, é necessário se aprofundar em uma sociedade na qual a liberdade foi extinta, a privacidade é um luxo raro, para bem poucos indivíduos, e a verdade é o que o Estado quer que ela seja. A constatação que se faz após a leitura de 1984, de George Orwell, lançado em uma edição especial pela Buzz Editora, é a de que o totalitarismo mecaniza as pessoas, transformando a capacidade crítica em algo perigoso, a ser combatido, e todos perdem quando a mediocridade triunfa. Mesmo após 71 anos do lançamento de sua primeira edição, o livro se mantém atual e relevante como nunca. O motivo? Crises políticas e sociais em todo o planeta, que representam uma ameaça real à democracia.
Em 1984 conhecemos a história de Winston, um homem solitário que vive em um mundo que, após uma guerra de escala global, a geografia mundial foi redesenhada e há apenas três Estados de dimensões continentais. Graças às teletelas, toda a população é vigiada a todo momento, dentro de casa e na rua, não há privacidade, o governo manipula a história, reescrevendo-a literalmente — há um ministério dedicado a essa tarefa, o da Verdade, no qual Winston trabalha —, para contar a “versão” dos fatos mais conveniente para o líder todo-poderoso, onipresente e abstrato Grande Irmão (Big Brother).
A obra-prima de Orwell sempre foi objeto de discussão e análise justamente pela potência inquestionável de sua narrativa distópica que, em ocasiões recentes, mais uma vez teve sua relevância cultural e literária reafirmadas, sempre despertando o interesse dos leitores: no Brasil, assim como em outros países, 1984 está sempre nas listas dos livros mais vendidos.
Em um século em que, novamente, as sociedades flertam com o totalitarismo, as redes sociais e os algoritmos parecem adivinhar o que estamos buscando e pensando, de disseminação massiva de fake news e em que o sutil equilíbrio do que chamamos de democracia parece à beira do colapso, é impossível não pensar em uma das frases mais célebres de 1984: “O Grande Irmão está de olho em você”. Mas enfrentar a opressão é a única maneira para caminhar diante as transformações e cabe a Winston esse desafio.