Quatro décadas. Esse é o tempo que separa o lançamento original de Saint Seiya, no Japão, e a incrível vitalidade que a obra ainda exibe no Brasil. Mais do que um anime, Cavaleiros do Zodíaco se tornou um fenômeno cultural que moldou a infância e a adolescência de milhões, com seus enredos dramáticos, personagens profundos e a eterna busca pela justiça. Hoje, ao completar 40 anos, a história criada por Masami Kurumada merece uma homenagem especial, com um olhar sobre o amor incondicional que floresceu em solo brasileiro.
A jornada no Brasil começou tardiamente, no final dos anos 90, mas explodiu com força total. Exibido pela TV Manchete e, posteriormente, com dublagens icônicas que entraram para o imaginário popular (“EXPLOSÃO DE ATENAS!”), o anime cativou uma nação. Não era apenas um desenho; era um evento semanal. As crianças reuniam-se diante da TV para ver Seiya, Shiryu, Hyoga, Shun e Ikki enfrentarem desafios sobre-humanos, vestindo armaduras que brilhavam com o poder das constelações.
A receita do sucesso era uma mistura poderosa. Havia a mitologia grega repaginada, o conceito de amizade e sacrifício, e batalhas que eram verdadeiros duelos de filosofia e força de vontade. Enquanto outros animes focavam em ação pura, Cavaleiros do Zodíaco mergulhava na tragédia e na redenção de seus heróis. Esse drama universal, somado à emocionante trilha sonora, criou uma conexão emocional rara.
O Fenômeno das Mídias Físicas e o “Caça às Figuras”
Antes da era streaming, o fandom brasileiro se construiu através de objetos de desejo e certa dificuldade de acesso. As revistas da Editora Conrad, com seus mangás em formato tankōbon, eram artigos preciosos nas bancas. Colecioná-las era uma missão quase tão árdua quanto a dos Cavaleiros de Bronze. Paralelamente, o mercado de vídeos foi fundamental. A saga chegou aos lares através dos VHS da extinta Epicenter, com edições que se tornaram relíquias para colecionadores.
Talvez o símbolo máximo dessa era sejam as action figures da Bandai, popularmente conhecidas como “bonecos dos Cavaleiros”. Encontrar um Saga de Gêmeos ou um Shaka de Virgem nas lojas de departamento era um triunfo. Esses itens não eram apenas brinquedos; eram troféus, a materialização de um universo amado. Essa “caça” alimentou uma comunidade ávida e solidificou o anime como um pilar da cultura otaku no país.
As Múltiplas Versões e o Renascimento no Século XXI
A paixão garantiu que novas versões e continuações encontrassem terreno fértil no Brasil. Cavaleiros do Zodíaco: Hades, a conclusão clássica da saga, finalmente chegou com estrondo, atendendo aos apelos de anos dos fãs. Prova do apelo duradouro, a série Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco, disponível na Netflix, ofereceu um reboot CGI que atraiu tanto olhares nostálgicos quanto novos públicos. E a recente Saint Seiya: Knights of the Zodiac, uma releitura em animação, mostrou que a franquia continua experimentando e se adaptando.
Além das telas, o legado se mantém vibrante em eventos de anime por todo o Brasil, com cosplays elaborados das Armaduras, painéis de discussão e uma presença constante nas redes sociais. Grupos online reúnem dezenas de milhares de membros para debater detalhes do mangá, trocar memes (“Você é o Cavaleiro de Bronze mais fraco!”) e celebrar a história.
Um Legado que Transcende o Tempo
Passados 40 anos, Cavaleiros do Zodíaco é mais do que uma lembrança afetiva. É uma linguagem comum a uma geração. Frases como “Usar o próprio sangue como arma…” ou o simples ato de cruzar os braços e imitar o Ícaro de Hyoga são códigos de uma identidade compartilhada.
A saga ensinou, acima de tudo, sobre resiliência. A mensagem de que um Cavaleiro de Bronze, mesmo ferido e sangrando, sempre se levanta para proteger o que ama, ecoou profundamente no espírito brasileiro. Por isso, ao celebrar estas quatro décadas, celebramos também uma parte da nossa própria história pop. O cosmo pode não ser uma energia real, mas a chama que Seiya e seus amigos acenderam no coração dos fãs brasileiros? Essa, definitivamente, nunca se apagou.
Ainda mais recente durante a CCXP 2025, foram celebrados os 40 anos de “Os Cavaleiros do Zodíaco” em um painel promovido pela equipe da revista HERÓI, no Palco Blast!. Os convidados André Forastieri (escritor e jornalista), Odair Braz Júnior (jornalista e especialista em cultura pop japonesa), Arianne Brogini (jornalista e pesquisadora de cultura pop) e Matheus Mossmann (editor e pesquisador da franquia) revisitaram a trajetória da série e analisaram seu impacto cultural no Brasil e no mundo. Durante o bate-papo, o grupo também anunciou, com exclusividade, seu novo projeto editorial: o livro “O Guia HERÓI dos Cavaleiros do Zodíaco”, uma obra com mais de 300 páginas que promete unir grande reportagem e artbook em uma edição definitiva sobre a saga. O lançamento está previsto para 2026.
E assim, a jornada continua. Para os que viveram a era Manchete e para os que estão descobrindo agora no streaming, o convite permanece: queime o seu cosmo, entre nesta batalha e descubra por que, depois de 40 anos, os Cavaleiros do Zodíaco ainda são imortais.


