Detentora da maior bilheteria da história para uma animação, a produção chinesa Ne Zha 2 tem estreia prevista no Brasil a partir da segunda semana de setembro. O anúncio foi feito durante o 16º Show de Inverno, em Campos do Jordão, e marca um novo capítulo na consolidação da animação como produto global, capaz de movimentar bilhões e desafiar o domínio tradicional dos estúdios hollywoodianos.
Com a conquista do posto de quinto filme mais assistido de todos os tempos, segundo o site chinês Maoyan, Ne Zha 2 representa mais que um sucesso de público: sinaliza uma virada de chave no mercado global de entretenimento, abrindo espaço para novas narrativas e centros de produção fora do eixo americano.
Com produções de diferentes países conquistando prêmios internacionais, somando bilheterias impressionantes e ampliando o interesse por narrativas com identidade cultural própria. Essa movimentação reflete um público global cada vez mais aberto à diversidade estética e narrativa e um mercado em franca expansão. Segundo a consultoria Mordor Intelligence, o setor de animação e efeitos visuais, hoje avaliado em US$179,78 bilhões, deve ultrapassar os US$311 bilhões até 2029, impulsionado pela demanda crescente e pelo avanço tecnológico.
Brasil deixa de ser apenas consumidor e entra no jogo como produtor
Tradicionalmente um dos maiores consumidores de animes no mundo, o Brasil começa a dar passos concretos como produtor. Essa mudança é representada por iniciativas como a da Noches Produções, estúdio de Niterói que lançou recentemente o episódio piloto de Genius!, primeiro anime brasileiro desenvolvido integralmente com técnicas japonesas. A estreia, realizada na Niterói Expo Geek, teve boa repercussão entre fãs e veículos especializados em cultura pop, evidenciando a receptividade do público nacional.
Além de Genius!, a Noches é também responsável por Nina e os Guardiões, animação estrelada por Larissa Manoela que estreou no Nat Geo Kids e hoje está disponível no Prime Video. O estúdio recebeu recentemente incentivo do programa Acelera Niterói, parceria entre a Prefeitura, a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Fundação Euclides da Cunha (FEC), fortalecendo ainda mais sua atuação no setor.
China e Letônia mostram força e originalidade
Do outro lado do mundo, a China reafirma sua potência com Ne Zha 2, sequência do sucesso de 2019. Com arrecadação de US$2 bilhões – a maior parte no próprio mercado chinês – o filme se destaca mesmo sem ampla distribuição ocidental, provando o potencial da indústria local em criar blockbusters independentes do circuito hollywoodiano.
Na Europa, a Letônia surpreendeu o mundo com Flow, de Gints Zilbalodis, que venceu o Oscar de Melhor Animação, além do Globo de Ouro, do César francês e de prêmios no Festival de Annecy. O filme se tornou a maior bilheteria da história do país, com mais de 300 mil ingressos vendidos e arrecadação de US$1,8 milhão, representando um feito histórico para uma produção do Leste Europeu.
Cenário promissor e culturalmente diverso
Com técnicas cada vez mais acessíveis, incentivo a estúdios independentes e interesse crescente por novas vozes narrativas, a animação internacional vive um de seus momentos mais potentes. Países como o Brasil têm não apenas capacidade técnica, mas também um repertório cultural vasto e inspirador. Diretores como Guillermo del Toro já reconheceram esse potencial: foi a partir de lendas brasileiras que o cineasta construiu parte da estética de A Forma da Água, vencedora do Oscar.
A ascensão de produções como Ne Zha 2, Genius! e Flow sinaliza uma mudança de eixo no entretenimento global. A animação, antes concentrada em poucos estúdios, agora se torna um território aberto à experimentação, à diversidade e ao diálogo entre culturas.