ter, 5 novembro 2024

Crítica 2 | Napoleão

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      Ridley Scott foi responsável por produções icônicas ao longo de seus quase 50 anos de carreira que variam entre ficções-científicas de horror como o caso de Alien, o Oitavo Passageiro (1979) e épicos como o reconhecidíssimo Gladiador (2001). Aos 85 anos é impressionante que o diretor ainda demonstre o ímpeto para continuar a comandar grandes produções, e este é o caso de Napoleão. Aqui Scott se reúne mais uma vez com Joaquim Phoenix (também de Gladiador) para representar um recorte do que seria a vida do reconhecido líder militar, e posteriormente imperador, Francês.

O filme, apesar de seus momentos grandiosos em questão de escopo, vai focar seu recorte sobre a vida de Napoleão a partir de sua conturbada relação com Josefina de Beauharnais (interpretada aqui por Vanessa Kirby). O referencial das cartas enviadas um para o outro ao longo dos anos parece ser a base para o que Scott fez no filme e nesse sentido é interessante observar a forma que Napoleão se enxerga nestes relatos. O filme vai buscar uma desconstrução da pressuposta imponência e autoconfiança do imperador francês a partir da dependência emocional que possuía em relação à sua esposa em contraponto com as expectativas colocadas em relação à sua liderança pelo povo e pelas figuras de poder na França.

É importante frisar, no entanto, que mesmo com essa tentativa de humanização da figura de Napoleão, ainda é muito difícil construir um nível de simpatia com essa história. Talvez a versão expandida que foi idealizada por Ridley Scott para o filme (a qual verá a luz do dia apenas no streaming) consiga trazer uma construção narrativa melhor estruturada, o que não acontece no corte para o cinema. Apesar das quase 2 horas e 40 minutos de duração, a trajetória de Napoleão parece extremamente corrida, o que não necessariamente significa que seja um filme ágil mas a impressão que fica é a de um filme incompleto, ou sem grandes ideias por assim dizer. Se Napoleão é uma figura que dificilmente gera empatia, graças ao seu gênio e sua forma de lidar com os outros (pelo menos dentro do que é apresentado aqui), talvez o filme pudesse usar isso ao seu favor uma vez que assumisse a problemática do personagem como um assunto a ser desenvolvido mas nem isso chega a ser usado, nem mesmo o contexto político da França ou da Europa é muito explorado. O tempo passa, informações em tela são apresentadas como nota de rodapé sobre um conflito liderado por Napoleão, vemos um pouco da luta, corta a cena, a vida segue e logo menos mais um conflito. Não há tempo para desenvolvimento.

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Não é necessário nem entrar no mérito da fidelidade histórica para reconhecer as limitações deste filme. Tanto Joaquim Phoenix quanto Vanessa Kirby são ótimos atores e a “tragédia” na relação de seus personagens talvez seja o elemento mais comovente do filme mas ainda assim é algo que se apequena dentro da montagem do longa. Fica muito claro que a relação de Napoleão e Josefina é um assunto de extremo interesse para o desenvolvimento da história mas em certo momento do longa essa questão é escanteada em função de montagens superficiais de guerra que, apesar de grandiosas soam muito vazias. Vazias justamente por não existir um desenvolvimento coeso do que exatamente estava em jogo nas disputas militares de Napoleão.

O filme então encontra em seus momentos de clímax uma situação de desinteresse. O apelo visual da guerra não consegue compensar a falta de investimento que a história tem em relação aos conflitos liderados por Napoleão. Inclusive a falta de vida nesses conflitos ainda é piorada pelo quase permanente filtro azul usado nestes segmentos, que talvez se justificasse se aplicado com alguma sutileza e intenção mas que aqui vem apenas como adicional à estética e iluminação chapada que são mais um ponto fraco no filme.

Não existe muito mais para exaltar aqui fora o esforço no design de produção em recriar a França do início do século XIX, figurinos e cenários estão ótimos mas nada disso compensa um filme que faz tão pouco com um personagem tão interessante.

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Destaque

Fabrizio Ferro
Fabrizio Ferrohttps://estacaonerd.com/
Artista Visual de São Paulo-SP
      Ridley Scott foi responsável por produções icônicas ao longo de seus quase 50 anos de carreira que variam entre ficções-científicas de horror como o caso de Alien, o Oitavo Passageiro (1979) e épicos como o reconhecidíssimo Gladiador (2001). Aos 85 anos...Crítica 2 | Napoleão