Depois do criador Pedro Aguilera ter lançado o episódio piloto no YouTube em 2011, 3% começou a ganhar destaque aos poucos e passou a ficar conhecida após o anúncio feito pela Netflix, de que produziria a primeira série original brasileira. Agora, os oito episódios com média de 45 minutos foram liberados.
A premissa da trama é a mesma da websérie, um futuro distópico onde existe o “Lado de Lá”, que promete ser um ótimo lugar para se viver e a salvação da vida de muitos jovens brasileiros. Para irem até o outro lado, os jovens passam por diversos testes (lembrando muitas vezes Big Brother Brasil), onde no fim, apenas 3% de todos os candidatos passarão.
O primeiro episódio (Cubos), é muito parecido com o de 2011, no quesito narrativo e de produção. O maior problema disso, é que em 2016, temos uma produção mais pobre visualmente falando; a trama do piloto não consegue atrair totalmente a atenção devido a fraca direção de arte, e aos confusos cortes da edição entre os planos, que deixam as cenas aleatórias e perdidas. Até a metade do episódio quatro (Portão) a série continua fraca, mas consegue apresentar um bom conflito entre os seus participantes. Logo na sequência, “Água”, o quinto episódio, da uma pausa na trama, e com um desenvolvimento lento e um roteiro mais cuidadoso, consegue entregar um bom episódio, que mostra o passado de Ezequiel (João Miguel) com sua esposa (Mel Fronckowiak). Porém, essa sequência boa é perdida nos episódios finais, que apresentam furos de roteiros e deixam à desejar com o final de temporada.
A maneira que as personagens são apresentadas é interessante, nada novo, seguindo o esquema de Lost, cada episódio conta o passado de uma personagem. A questão aqui, é a demora para criarmos um vínculo com as personagens, ficando difícil torcermos por elas ou odiar outras; o maior exemplo disso fica com Marco (Rafael Lozano) no episódio quatro, que tem seu passado contado, para no fim sair da série, sendo totalmente desnecessárias as cenas de seus flashbacks.
O mercado de séries brasileiras precisa fugir o máximo do padrão clássico das novelas, e com a direção de César Charlone, Daina Giannecchini e Jotogá Crema, 3% consegue fugir dos planos padrões e chatos das novelas. O roteiro de Pedro Aguilera tenta fugir também, mas acaba ficando fraco. Primeiramente, todos os plots que ele apresenta em determinado episódio, são resolvidos no próprio capítulo, não deixando tempo para você pensar no que pode acontecer, ou criar teorias para os próximos episódios. O segundo ponto, é que a trama tenta inovar, mas não consegue. Apostando em um gênero fora comum para os brasileiros, assim como a Globo tentou fazer em Supermax apostando no Terror; mas infelizmente, assim como a série de terror, 3% acaba tendo sua narrativa fraca, achando que pela temática diferente da série, isso não seria um problema, e acaba sendo o maior deles.
As atuações estão boas, com destaque para Michael Gomes (Fernando), Rodolfo Valente (Rafael) e Mel Fronckowiak .Um dos nomes mais conhecidos do elenco é o de João Miguel, que interpreta o chefe do processo, Ezequiel. Mesmo atuando bem em filmes como Estômago, aqui, João acaba tendo uma atuação exagerada e forçada em muitos momentos.
A história de jovens indo contra um sistema totalitário controlado por velhos conservadores é uma história vista diversas vezes (Jogos Vorazes, Divergente, Maze Runner), que está ficando batida e o público está perdendo o interesse (tendo como exemplo o último filme da franquia Divergente, que foi cancelado); Pedro Aguilera pega esse tema e faz mais do mesmo, deixando 3% fraca em diversos momentos. Junte isso aos efeitos especiais ruins, edição confusa e uma produção artística fraca e pobre nos detalhes de seus cenários. Infelizmente, a primeira produção original brasileira pelo serviço de streaming, falha em agradar e é apenas uma série fraca com uma história já conhecida.