Com o último episódio da Casa do Dragão já entre nós, a vista por todo o percurso da série mostra uma jornada que traçou caminhos seguros mas eficientes. O spin-off de Game of Thrones opta por não ser um sucessor espiritual da obra original, aqui temos uma obra muito menos crua e mais fantasiosa e com tons mais épicos. Elementos gráficos e algumas batidas narrativas ainda nos lembram que estamos vendo uma série no mesmo universo, mas a visão aqui é mais poética.
Um dos fatores que nos apontam isso é o tempo que a série nos dá para sentir o luto pela morte de personagens, ao longo da temporada várias figuras chaves faleceram de forma trágica ou natural, e a série nos dá momentos para sentir aquelas mortes. Não é preciso dizer o como isso difere de Game of Thrones, em que lá a visão da morte dos personagens era muito mais cínica para entrar em harmonia com os temas tratados na época.
Um exemplo em A Casa do Dragão é como a morte da Princesa Visenya Targaryen é poetizada neste último episódio. Mesmo sendo um bebê que conhecemos um pouco mais que nada, o seu nascimento natimorto causa um impacto enorme na agora Rainha Rhaenyra, o trabalho de parto da sua primeira filha é uma cena dolorosa de se acompanhar. Esta poesia presente na narrativa de A Casa do Dragão é um elemento que entrega maior conexão do espectador com os personagens em tela. A cena nos compele a acompanhar a luta de Rhaenyra em paralelo com o crescimento da guerra que está por vir.
Tal guerra que está sendo montada por um impaciente Daemon Targaryen, o príncipe ignora quase completamente Rhaenyra para assim preparar os planejamentos e alianças que serão necessários no futuro. Aqui vemos como Daemon é movido pelo o fogo e o desejo da guerra, o motivo de tal impaciência para o conflito é bem claro, coroar Rhaenyra como rainha o transforma em rei. O desejo do personagem que é estabelecido desde sua primeira cena na série agora é aflorado e externado na forma da guerra. Mesmo com tal desejo, o pensamento de que Daemon nunca foi o verdadeiro herdeiro faz ele surtar, o personagem não conhecia a profecia da Canção de Gelo e Fogo, uma profecia que serve como uma conexão entre o spin-off e a obra original.
Se opondo a Daemon e a outros lordes que clamam pelo conflito, Rhaenyra se estabelece como o posto mais sensato da mesa, representando uma sabedoria como governante que não quer iniciar um derramamento de sangue desnecessário. Mas tal sabedoria não se confunde com ingenuidade, a rainha reúne e busca seus aliados para um quase inevitável embate, mesmo que essa busca seja a própria causa do estopim da guerra.
A tarefa do jovem Lucerys Velaryon acaba se tornando uma tragédia para o reino. O embate com Aemond se torna responsável pelo início da guerra, a última gota para que assim a Dança dos Dragões comece.
A Casa do Dragão não demonstrou nenhuma dificuldade em se estabelecer como sua própria série. Fugindo do que Game of Thrones foi no início, a obra optou em ir mais em direção ao que a série original se tornou no seu fim, tal fato traz pontos positivos e negativos. Positivos por assim a história dos Targaryen poder ter uma liberdade maior de como suas batidas são construídas, mas negativas por essa liberdade ser usada para escolher narrativas mais seguras e com menos nuances que a obra original. Tornando assim, Casa do Dragão, uma série que nos dá bastante entretenimento, mas nunca optou por ir em temas ou visões mais profundas.