Publicidade
Publicidade
Início Críticas Crítica | A Filha do Pescador

    Crítica | A Filha do Pescador

    Bem realizado, drama vai muito além de alusões clichês a um “peixe fora d’água”

    Publicidade

    Em A Filha do Pescador (La Estrategia del Mero), acompanhamos Samuel, um amargurado pescador que mora sozinho em uma ilha da Colômbia caribenha, após ter sido abandonado pela esposa e filho. Até que um dia, seu filho, agora uma mulher trans chamada Priscila, bate à sua porta, pedindo asilo.

    Logo nas primeiras cenas de A Filha do Pescador (La Estrategia del Mero), vemos o personagem de Roamir Pineda abatendo um Mero, um peixe de água salgada também conhecido por Canapu, que muitos pesquisadores acreditam se tratar de uma espécie hermafrodita protogínica e que, atualmente, se encontra em grande risco de extinção. A sequência torna-se deveras importante quando analisamos a linguagem fílmica da produção colombiana/brasileira/porto-riquenha, que permite uma curiosa alusão entre o peixe e a protagonista, uma mulher transexual que precisa retornar ao lugar onde nasceu por estar sendo ameaçada pelas autoridades. A partir daí, o filme se desdobra, mesmo diante de uma proposta intimista e até introspectiva, como uma impactante reflexão de como é a perigosa e preconceituosa realidade das mulheres transexuais e travestis sul americanas.

    Muito longe de ser uma mera história sobre reconciliação, A Filha do Pescador opta por utilizar como principal recurso narrativo o espelhamento em uma dura realidade, criando situações chocantes que, apesar de estarem presentes e conseguir gerar impacto, necessitavam de um maior detalhamento para poder desenvolver a trama com mais maestria. Repleta de grandes intenções e recursos narrativos que possibilitam uma jornada sensível e reflexiva, o roteiro e direção de Edgar Alberto Deluque Jacome trabalham bem a temática principal, apesar do pouco tempo disponível para um desenvolvimento mais profundo, sabendo conciliar espaços entre o drama questionador e o melancólico.

    Imagem: Larimar Films/Reprodução

    Existe um interessante contraste atmosférico entre o ato final e o restante do longa. Em seus últimos minutos, o filme parece encontrar ir definitivamente de encontro a sensibilidade, após o desencadeamento de seus conflitos, contando com imagens de planos mais abertos, além de diálogos e situações que estimulam a mudança de percepção de personagens e sua socialização, além de intensificar a personagem Priscila como uma mulher transexual que não se permite deixar de ficar de pé, diante de todas as situações de preconceito e perseguição, sendo revelado que ela está em fuga devido a um crime cometido por legítima defesa.

    A atuação de Nathalia Rincón, como a protagonista Priscila, é um dos pontos mais altos de A Filha do Pescador. A atriz representa, de maneira exímia e visceral, todas as injustiças enfrentadas por mulheres transexuais e travestis latinas e caribenhas. Roamir Pineda, como o pai preconceituoso Samuel, também intensifica o drama com uma interpretação nua e crua de seu amargurado personagem.

    Nathalia Rincón como Priscila. Imagem: Larimar Films/Reprodução

    Com uma bela direção de fotografia, sob a responsabilidade de Rafael González, que faz um brilhante uso da luz natural em planos simétricos que valorizam a composição das imagens, além de sequências submarinas bem filmadas que também utilizam o espaço com maestria, A Filha do Pescador também chega a ser uma grata surpresa quanto aos aspectos visuais.

    Sensível e reflexivo, mesmo que quase moderadamente, devido a sua curta duração, A Filha do Pescador consegue emocionar e debater questões de extrema importância social, podendo ir muito além de metáforas de pesca.

    Publicidade
    Publicidade
    Sair da versão mobile