No drama de ficção-científica A Garota Artificial (The Artifice Girl), uma dupla de agentes especiais começa a colaborar com o criador de um programa de IA para capturar predadores online. No entanto, a inteligência artificial, chamada Cherry, evolui além de seu propósito inicial, levantando questões complexas sobre consciência, ética e moral, além do significado sobre o que é ser humano.
A interpretação cinematográfica dos conceitos Asimovianos referentes à robótica, amalgamados a uma singela crise moral reflexiva no mais profundo estilo de Philip K. Dick, talvez tarde a ficar obsoleta. A cada avanço tecnológico que a humanidade desvenda e testemunha, a atualização dessas temáticas para diversas mídias é mais do que bem vinda, principalmente na Sétima Arte. Lançado em 2022, chegando aos cinemas brasileiros após 3 anos (tempo este que, felizmente, fez muito bem para seu impacto temático), A Garota Artificial (The Artifice Girl) expõe suas ideias acerca da funcionalidade e controle de uma inteligência artificial no combate à pedofilia no ambiente virtual, com louvor nas suas observações cirúrgicas e, de fato, não embasadas somente em teorias, mas em discussões reais a respeito da evolução de uma inteligência artificial e sua contribuição para com a humanidade.

Divido em três atos, cada um dispondo de aproximadamente 30 minutos, A Garota Artificial é um filme sustentado pelo conteúdo de seu argumento e sua desenvoltura através de diálogos que podem soar como pura demagogia por quem não conseguir captar de primeiro momento a consistência de suas sóbrias ideias, mas que se desdobram de maneira satisfatoriamente cirúrgica e, a cada momento em que nos deparamos com um upload de ideias e debates sobre Inteligência Artificial, necessárias por aqueles que estão conectados à narrativa.
Em A Garota Artificial, Franklin Ritch escreve e dirige temáticas que vão da execução e questionamento das Leis da Robótica diante a modernidade, até a ética no controle da tecnologia e sua disponibilização para bens maiores. Ritch encontra diálogos profundos, repletos de informação e interpretação, além de posicionamentos de câmera que valorizam a presença dos personagens em cena e o tom mais introspectivo de suas histórias, dando à narrativa um impacto necessário e ainda mais convincente, o que se intensifica quando o próprio realizador atua como o criador da inteligência artificial Cherry, responsável por combater predadores na internet. Em seus dois primeiros atos, o longa expõe suas problemáticas por meio da ótica do programador Gareth, vivido por Ritch, e a dupla de investigadores Deena e Amos, interpretados respectivamente por Sinda Nichols e David Girard.
No início de A Garota Artificial, há a apresentação de sua principal problemática, ora contemplativa, ora curiosa e cheia de questionamentos, que, por outro lado, cairia como uma luva na atual sociedade, porém sob o controle certo. Na metade, descobrimos que tal controle pode ser inútil, já que a tecnologia adquire atualização própria e, teoricamente, passa a agir por si, o que vem a levantar indagações a respeito de uma vida artificial. O terceiro e último ato conta com a marcante participação do veterano Lance Henriksen (Aliens: O Resgate) que alavanca a carga dramática do protagonista Garreth. Nessa derradeira parte, além de compreendermos com mais precisão os interesses do persomagem principal, conseguimos ver na prática tudo o que havia sido debatido desde o início, de maneira prática e suscinta, fiel aos objetivos da trama.
Com grandes atuações, principalmente por parte da jovem Tatum Matthews (intérprete de Cherry), trama intrigante e diálogos construídos com maestria, A Garota Artificial é uma síntese moderna e bem elaborada de como abordar a relação entre homem e máquina na Sétima Arte.


