sex, 22 novembro 2024

Crítica | A Grande Fuga

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      Remoer os traumas da 2a Guerra é algo recorrente no audiovisual do oeste global. Talvez essa fonte, formadora de toda identidade de algumas gerações dos países do eixo, ainda guarde uma força a ser explorada, mas não deixa de ser um assunto um tanto “gasto”. Pensando nesse sentido, acompanhar o esforço em manter o trauma da guerra vivo pode ser um paralelo à acompanhar a decadência de toda uma geração e A Grande Fuga acaba entrando nesse processo.

      O filme acompanha a história de Bernie Jordan (Michael Caine), um veterano de guerra já de idade avançada que vive com sua esposa, Irene (Glenda Jackson), em uma casa de repouso. O momento da comemoração de 70 anos do Dia D se aproxima, mas Bernie acaba não conseguindo se inscrever para grupos de veteranos rumo à Normandia. Entendendo que é uma ocasião importante para trazer algum tipo de conclusão para suas memórias de guerra, Bernie decide fugir da casa de repouso rumo ao evento sozinho, tendo que enfrentar não só as dificuldades espaciais de um senhor viajando entre países mas também as de caráter emocional que envolvem essa viagem.

      É uma obra que se apega muito mais ao melodrama do que qualquer outra coisa, e as interpretações de Michael Caine e Glenda Jackson ajudam a vender um mínimo de peso para essa história, trazendo verdade para a representação da velhice e das dificuldades naturais que a idade impõe à alguém mas sem perder o bom humor ou a humanidade.

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      Talvez o filme se perca um pouco no discurso quando tenta, de fato, tocar em seus temas relacionados ao trauma. A interpretação de Caine e Jackson ajuda a vender o sofrimento mas não apaga a falta de profundidade com que a situação da guerra é representada, passando por cima de uma série de problemáticas para focar apenas no drama.

A guerra aqui é representada majoritariamente por uma série de flashbacks da juventude de Bernie e Irene, onde aos poucos compreendemos melhor tanto a dinâmica de ambos enquanto casal, quanto alguns processos pelos quais eles passam individualmente durante o período, o que ajuda trazer mais mais algumas cores diferentes para essa história que apesar de relativamente objetiva, ainda guarda alguns momentos de revelação. Isso funciona bem para fortalecer o laço dos personagens pensando que em grande parte dessa história eles estão afastados pela viagem de Bernie.

      É um filme que pode tocar os mais emotivos por ser fiel ao melodrama e saber quando chantagear o público com a beleza trágica da nostalgia e a empatia por seus personagens, porém não chega a conseguir usar esses elementos para contornar seu próprio contexto, tanto dentro da sua adaptação de um causo real quanto pela ideia de reforçar a decadente memória de uma guerra já hiper representada no imaginário ocidental sem agregar muito à conversa.  

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Fabrizio Ferro
Fabrizio Ferrohttps://estacaonerd.com/
Artista Visual de São Paulo-SP
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