seg, 18 novembro 2024

Crítica | A musa de Bonnard

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Hollywood tem uma longa tradição de produzir filmes biográficos sobre grandes figuras da arte, incluindo pintores clássicos e músicos. Esses filmes buscam oferecer uma visão “diferente” da vida, das lutas, dos triunfos e das dores dessas figuras icônicas, ao mesmo tempo em que exploram seus contextos históricos e culturais. O objetivo desses filmes é, em sua maioria, espetacularizar e humanizar ainda mais essas personas históricas, mostrando os artistas como pessoas reais, com falhas e momentos de genialidade. Isso ajuda o público a se conectar mais profundamente com a arte dessas figuras e a entender melhor suas motivações e inspirações (ou não).

Nesse contexto, o filme A Musa de Bonnard, distribuído pela California Filmes e dirigido por Martin Provost, é um drama biográfico que traça a vida e obra do renomado pintor francês Pierre Bonnard e sua profunda relação com Marthe de Méligny, sua esposa e musa inspiradora. O filme tenta explorar o complexo e duradouro relacionamento de cinco décadas entre Pierre (Vincent Macaigne) e Marthe (Cécile de France), revelando os altos e baixos de suas vidas pessoais e artísticas.

Pierre Bonnard, conhecido como “o pintor da felicidade”, encontra em Marthe uma fonte constante de inspiração tanto para sua vida pessoal quanto para sua carreira artística. No entanto, o filme parece retratar Marthe mais como um objeto do desejo de Bonnard do que como uma figura autônoma e enigmática. Apesar de ser descrita nos estudos de arte como uma mulher cativante e misteriosa, o filme a apresenta sem uma identidade própria, moldada apenas pelo amor de Bonnard. Não há espaço para Marthe ser alguém, apenas a musa de Bonnard e nada mais, até mesmo quando Provost aponta a narrativa para os dramas de Marthe, nada é verdadeiramente construído.

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Além disso, o filme falha em captar a essência apaixonante da história de amor e criação entre Pierre e Marthe. A narrativa não proporciona uma visão íntima do casal, e à medida que a história se desenrola, A Musa de Bonnard revela pouco sobre a verdadeira natureza da relação entre os dois. Provost, ao invés de criar um intimismo melodramático diante da câmera, opta por uma abordagem superficial do relacionamento, condensando cinco décadas de vida em uma narrativa de duas horas que não consegue expressar a profundidade e a riqueza dessa história.

Mesmo as controvérsias desse casal icônico, que poderiam provocar ideias dramáticas interessantes, são distanciadas pela decupagem de Martin Provost. A câmera observa as pessoas, a natureza, todo aquele mundo, mas não enxerga coisa alguma. É um olhar que aponta, mas não vê, ou pelo menos se recusa a ver. A montagem do filme luta para apresentar algum tipo de ritmo fluido e natural, assim como as pinturas de Bonnard, mas compromete-se ao adotar uma velocidade e cortes tão bruscos que tornam difícil qualquer tipo de vínculo emocional.

Em comparação com a beleza das telas de Bonnard, o filme de Provost parece desprovido de vida e autenticidade. A tentativa de capturar a carreira e a vida amorosa de Bonnard fica aquém, deixando uma impressão de superficialidade. A Musa de Bonnard não consegue fazer jus à complexidade e à beleza da vida do casal que retrata, resultando em uma obra que, apesar de algumas boas intenções, falha não apenas em contar uma interessante história de amor, mas também em honrar o próprio fazer cinematográfico. Provost perde a oportunidade de criar uma obra cinematográfica que pudesse refletir a mesma vivacidade e profundidade das pinturas de Bonnard. O filme, ao contrário, acaba por ser uma representação pálida e sem vida de um artista cuja obra é celebrada pela sua exuberância e alegria. 

Filme assistido a convite da California Filmes. A musa de Bonnard estreia no dia 6 de junho nos cinemas.

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Caique Henry
Caique Henryhttp://estacaonerd.com
Entre viagens pelas galáxias com um mochileiro, aventuras nas vilas da Terra Média e meditações em busca da Força, encontrei minha verdadeira paixão: o cinema. Sou um amante fervoroso da sétima arte, sempre pronto para compartilhar minhas opiniões sobre filmes. Minha devoção? Cinema de gênero, onde me perco e me reencontro a cada nova obra.
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