Um homem solitário e anti-social resolve numa noite, ir em uma festa organizada por sua ex-namorada. Durante a festa, após falhar em sua tentativa de reconquistá-la, ele adormece sozinho numa sala isolada. Na parte da manhã, o apartamento está vazio e as ruas repleta de zumbis. Mais um filme de zumbis, com muita violência, com terror gore e caos na terra, certo? Errado! Prepare-se para ver um drama que faz uma bacana metáfora sobre a solidão.
Dominique Rocher (The Speed of the Past) constrói gradativamente a sua trama, explorando bem a cartilha do gênero de filmes de zumbi. O ato inicial no prédio é a prova disso, mostrando sem muito estardalhaço o caos que ocorre no mundo. Os zumbis da série não deixam a desejar nada quando comparado a de outros produções com mais dinheiro. A principal qualidade do longa é fugir do comum. Vemos aqui a análise da solidão de um ser humano, que já era solitário (por opção) antes do mundo ir pras cucuias. Com a metáfora construída vemos o protagonista sucumbir gradativamente a loucura, ao desespero por não ter alguém. Esqueça as cenas de terror, o caos, prepare-se para ver uma Paris infestada de zumbis que é usada como plano de fundo para essa analise dolorosa sobre o ser humano, sobre a tristeza e dor de ser sozinho.
O filme peca no ritmo de sua análise, tudo é muito parado – o roteiro confunde cadenciar a trama com falta de ritmo – é o segundo ato é arraaaaaaaastado que quase desistimos de acompanhar o restante do longa, porém vem o terceiro ato e salva a trama do fracasso. Quase sendo um monólogo, cabe ao protagonista Anders Danielson Lie (22 de julho) mostrar todas as dores e o caos na mente de um homem desesperado. No geral o ator convence, mesmo com alguns exageros nas suas atitudes, que acabam sendo agravados pelo roteiro que erra em desenvolver as situações no segundo ato. A fotografia acerta ao usar ambientes pouco iluminados para causar a sensação de claustrofobia. Os planos aéreos reforçam a ideia de caos e a trilha sonora completa o clima de solidão na qual o personagem está inserido.
A Noite Devorou o Mundo é um filme de baixo orçamento que não faz feio ao gênero, mesmo tropeçando aqui e ali, o longa possui uma história interessante e faz a gente refletir sobre uma questão muito atual: como mesmo cercados de tanta gente (zumbis) ainda conseguimos ser nós sentir tão sós?