qua, 24 abril 2024

Crítica | A Primeira Morte de Joana

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Amadurecimento é uma palavra muito ampla. Quando estamos tratando da juventude, de que forma se pode medir um amadurecer? É uma questão de responsabilidade? Uma questão física? De autoconhecimento? São muitas variáveis. O fato é que o contexto deve ser considerado um fator relevante nessa conta e refletir sobre esse processo todo sempre pode trazer respostas interessantes. A diretora Cristiane Oliveira vai entrar nesse campo de reflexão com seu filme A Primeira Morte de Joana.

      O filme vai acompanhar um recorte na vida de Joana, de 13 anos, que vive em 2007 um momento de incerteza ao ter que lidar com a perda de sua tia-avó que era muito próxima mas que ao mesmo tempo trazia uma série de questões para jovem. Joana nunca entendeu como uma mulher que ela respeitava tanto nunca namorou na vida. É interessante pensar sobre como as observações mais simples da garota são muito pautadas pela forma que os adultos ao seu redor informam ela sobre o mundo mas ainda assim é inevitável um descontentamento por parte da jovem por entender que essa relações já não cabem mais a ela. 

O filme vai construir uma narrativa de autodescoberta para Joana a partir do descontentamento, do sentimento de que dentro dela existe uma possibilidade de compreensão que não necessariamente se cruza com o que sua família passou ao longo de gerações e a questão da tia é o gatilho para atiçar a curiosidade da jovem. O filme vai construir bem a forma como uma pré-adolescente vai compreendendo suas frustrações, suas inseguranças e aos poucos ressignificando suas relações com os outros. A família de Joana, muito pautada por perspectivas femininas em diferentes gerações vai trazendo para si interações diferentes sobre como a figura da mulher foi buscando libertação de outras formas ao longo do tempo e nesse aspecto é um filme que consegue trazer empatia para esse processo.

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      Muito da autodescoberta de Joana vai estar pautada por suas relações afetivas e compreender como esse seu interesse pelo romance se enquandra também na sua vida e de quem ela já têm como próximo, principalmente sua melhor amiga: Carolina. Essas relações são desenvolvidas de maneira orgânica, as duas jovens são escritas de forma que suas conversas parecem trazer uma ingenuidade autêntica, não soam como as palavras de um adulto na boca de uma criança e isso pode trazer um fator de desconforto pelo ritmo dos diálogos mas que tematicamente trás um valor de realidade para a história. 

      É um filme esteticamente bem organizado, a fotografia valoriza a paisagem gaúcha e coloca esse ambiente em combate com as questões temáticas da história. Moinhos de vento inevitáveis ao olhar no horizonte vão acompanhar a rotina de Joana enquanto ela busca entender o crescimento pelo qual está passando, e as recorrentes dores que vem com esse processo. A Primeira Morte de Joana é um bom filme, apesar de não inovar. Cristiane Oliveira entrega uma obra que fala com honestidade sobre o amadurecimento, sem grandes enfeites, mas focada enquanto dá sua voz para uma juventude que hoje busca por representação.

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Artista Visual de São Paulo-SP
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