
Três soldados desertores da Guerra do Paraguai encontram uma casa isolada na fronteira, habitada por um fazendeiro e uma jovem. O que parecia ser um refúgio se transforma em um pesadelo quando eles descobrem que o local esconde segredos. Essa é a sinopse oficial de A Própria Carne, filme que marca a primeira produção original do Jovem Nerd nos cinemas e tem a direção de Ian SBF (Entre Abelhas).
A Própria Carne é um filme de terror que usa do simbolismo para contar um história assustadora e pouco convencional, em especial para os moldes do cinema feito no Brasil. A trama, escrita pelos estreantes Alexandre Ottoni e Deive Pazos e pelo próprio diretor, leva o espectador direto para a ação mostrando do que o ser humano é capaz de tudo para evitar a morte. Entre silêncios e poucas palavras acompanhamos um primeiro ato objetivo, onde vemos homens sem esperança embarcando em uma verdadeira viagem para o inferno.
Se existe um defeito nessa produção, ele está relacionado a sutileza das situações. Assim que os protagonistas chegam ao local onde todo restante da história vai se desenvolver, vemos que não existe nenhum mistério com relação ao caráter e intenções das pessoas do local. Vemos situações e comportamentos que a todo momento mostram ao espectador que os protagonistas deveriam sair dali o mais rápido possível, mas isso não é perceptível para o grupo ingênuo de soldados que vê tudo acontecer de modo passível. Além disso, a trama trata de vários temas: religião, impacto psicológico de uma guerra, violência, racismo. Mas tudo que vemos é apresentado de modo superficial, o que pode atrapalhar a imersão neste universo, mas não chega a atrapalhar o desenvolvimento da trama.

A direção de SBF acerta ao inserir uma fotografia que faz uso de iluminação natural e de alguns filtros nas cenas diurnas, tornando o ambiente ameaçador. O local, cenário e figurinos apresentados são simples, mas muito bons e a produção disfarça bem suas limitações orçamentárias. O diretor usa closes nas expressões dos atores, para transmitir o terror da situação e gerar uma sensação de claustrofobia. Mas não ache que por ser um terror, o filme usa e abusa de dar jumpscare. Pelo contrário, o medo aqui é gerado pelo desconforto das situações apresentadas e pelo impacto das cenas de violência, que são bem feitas.
Por fim, o elenco é outro destaque. Jade Mascarenhas, Jorge Guerreiro, Pierre Baitelli e George Sauma se doam em seus papéis e cumprem bem suas funções. Mas o dono do filme é Luiz Carlos Persy (dublador de Joel em The Last of Us) que constrói um personagem que crê que suas intenções servem para um bem maior, mas é uma pena que o roteiro não dê tanta ênfase a isso e prefira focar no clico de violência sem fim que persegue o grupo de soldados.
A Própria Carne é um filme muito bem feito tecnicamente e que apresenta uma história tensa, cruel e assustadora. Mesmo tropeçando aqui e ali na sua narrativa, este é um bom filme. Que este seja o primeiro muitos projetos originais do Jovem Nerd e da sua equipe nos cinemas, o filme de estreia é um ótimo cartão de visitas.


 
                                    