dom, 28 abril 2024

Crítica | A Sala dos Professores

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      Comunidades se baseiam em acordos de convivência, sejam eles mais ou menos rígidos. Dentro desses grupos conflitos são inevitáveis, mas como se portar diante deles? Uma pergunta muito ampla para as especificidades de cada situação mas que pode ser usada como gancho para a criação de pequenos e descontrolados mundinhos ficcionais. Essa é a brincadeira de Ilker Çatak em A Sala dos Professores, filme que representou a Alemanha no Oscar deste ano de melhor filme estrangeiro.

      Se situando dentro de uma escola pública, a trama acompanha Clara (Leonie Benesch), uma professora recém chegada que, ao se deparar com uma série de furtos dentro da escola, decide investigar a fundo os acontecimentos por conta própria. Essa vontade de resolução, no entanto, pode acabar desestabilizando todo o ambiente entre docentes e alunos.

      O filme vai partir do microcosmo institucional da escola para colocar Clara como centro de uma história com ecos de thriller investigativo que planta suas raízes no embate entre boa vontade e efeito real das ações de cada personagem no grupo como um todo. Se no começo do filme a animação de Clara com suas práticas de descontração em aula demonstram uma vontade de aproximação entre ela e seus alunos, essa mesma boa vontade de servir ao grupo acaba resultando em conflitos posteriores que comprometem o equilíbrio no ambiente. Nessa chave Çatak constrói uma das maiores forças do filme ao enquadrar quase todos os personagens como agentes supostamente bem intencionados que, postos em diferentes lugares da engrenagem tentam fazer seu melhor mas sucumbem ao ruído da individualidade. 

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      Adultos buscando pela fachada da lógica e do controle enquanto reconhecem seu próprio desespero entram em embate direto com as crianças que, de maneira curiosa e espontânea, buscam respostas para a crise se formando dentro da escola. O longa coloca esses dois núcleos como agentes ativos que se retroalimentam. Questões sociais e políticas até aparecem como pauta e são abordadas em algum nível enquanto Carla tenta manter sua posição inicial e, mesmo que de maneira inocente ainda que firme pelos alunos ou inflamada e acusatória por parte dos pais, o vai e vem de ações bem intencionadas e reações desestabilizadoras continua sendo a tônica do filme.

      Mesmo que o protagonismo seja de uma professora aqui, os melhores momentos envolvem a participação das crianças nessa equação. Observar a pulsão que os alunos demonstram enquanto uma crescente tensão se forma no ambiente de escola, as reações infantis ainda que compreensíveis dentro de contexto trazem um elemento de caos a mais que enriquece o debate dos docentes e avança a história para seus momentos de maior tensão.

      Num geral, A Sala dos Professores é um filme que se encontra mais nas suas dinâmicas do que nas suas repostas. Mesmo que sem se permitir adentrar demais no thriller que emula em menor escala de intensidade e consequências, ainda vende uma história relacionável que explora tanto as dificuldades de tentar manter o controle quanto a importância da empatia no convívio em sociedade.

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Destaque

Fabrizio Ferro
Fabrizio Ferrohttps://estacaonerd.com/
Artista Visual de São Paulo-SP
      Comunidades se baseiam em acordos de convivência, sejam eles mais ou menos rígidos. Dentro desses grupos conflitos são inevitáveis, mas como se portar diante deles? Uma pergunta muito ampla para as especificidades de cada situação mas que pode ser usada como gancho para a...Crítica | A Sala dos Professores