O longa traz esse proposta de Slow Burn em relação do mundo ao redor dos personagens afetarem sua convivência e própria confiança. Ele vai trabalhar em mostrar o cotidiano dos protagonistas e aos poucos demonstrar as opiniões e ações acerca dos protestos no país, de uma maneira que provoque uma rachadura na família e mais um reflexo das duas “sementes” que o filme quer mostrar: a boa e a ruim.
Na trama, Iman, recém-promovido a juiz de instrução, luta contra a paranoia e o esgotamento mental em meio à agitação política em Teerã, causada pela morte de uma jovem. Quando sua arma desaparece, ele suspeita de sua esposa e filhas, impondo medidas severas que desgastam os laços familiares.
E é estimulado inicialmente um clima bem favorável com a família. A promoção do pai traz ânimo quanto seus anos de trabalho e dedicação com a família, não só admiração da esposa, mas de suas filhas e uma possível saudade do mesmo devido sua ausência por conta do trabalho. O que o filme trabalha é uma constante paranoia a cerca dos protestos e mudanças ocorridas na sociedade iraniana, isso vai afetar diretamente a rotina daquela família, com amigos e as próprias filhas apoiando as mudanças, representando uma ideia da semente que está ali, e aos poucos vai crescendo de geração em geração, o filme mescla isso muito bem entre uma irmã e outra, sendo a mais nova a mais corajosa ali.
Por outro lado, o cerco opressor é muito bem representado, não só pelas imagens reais utilizadas no longa dos protestos e massacres cometidos contra mulheres em passeatas pacíficas, mas a cerca do pai daquela família e o objeto da arma de fogo. Ela consegue causar um medo e paranoia mesmo nem sendo ao menos utilizada ao longo do filme. Vai trabalhar essa ideia da outra semente, uma que está implantada em gerações e mais gerações, criadas por um sistema baseado totalmente na religião e culto só Deus, e assim vai se instaurar na figura do pai, toda a opressão. Desde um gesto, uma olhada, uma fala contra novos pensamentos, se torna chocante se tratando de sua própria família. O longa deixa em aberto de onde surgiu e enraizou tudo aquilo e o embate geracional que durará anos e mais anos.
E nos últimos 30 minutos, quando a situação se torna mais intimista e deixa aquela embate social de lado, parece que a coisa se torna menos empolgante. Não só pela perseguição final que beira um pouco o cômico, falta de ritmo e um Scooby Doo fora de contexto. Mas tira um pouco da força daqueles momentos de tensão da cidade que estavam sendo construídos, é compreensível ele afunilar isso e materializar na família, porém a execução não empolga tanto quanto o resto do filme.
E atuações acabam chamando mais atenção dos pais, principalmente a mãe, que precisa respeitar e se agarrar nas velhas tradições, porém acaba que deixada sem escolha quando seu próprio marido passa do limite e a faz defender a única coisa que importa: suas filhas. O pai chama a atenção a cerca do problema envolvendo a arma de fogo e seu medo, e o filme ainda adiciona uma possível desconfiança de seus superiores, mas o filme acaba que deixando isso de lado mais pro final da história. Sua dualidade e transformação conforme tudo vai ficando pior é um retrato triste daquela sociedade.
A Semente do Fruto Sagrado é um baita trabalho corajoso de seu diretor em abordar um tema recente da sociedade iraniana. Ele traz esse questionamento desse mal enraizado na sociedade por décadas e ainda questiona se é possível isso ter um fim em meio tantos massacres e conflitos. Ele materializa esse terror na família e deixa o conflito político ao seu final para trazer algo mais íntimo, podendo funcionar ou não para o telespectador. Baita trabalho.