A Única Sobrevivente (The One/Odna) é um filme russo, lançado em 2022, que chega ao Brasil por meio do canal Adrenalina Pura. O longa, inspirado em um impressionante caso real, conta a história de Larisa (Nadezhda Kaleganova), uma jovem que sobreviveu a um acidente entre um avião comercial e um bombardeiro soviética a mais de 5km de altitude, em 1981. Acordando sozinha em meio a floresta, ela precisará encontrar seu milagre para sobreviver ao frio, aos perigos da mata e a angústia de ser a única sobrevivente de uma catástrofe.
É comum que as versões cinematográficas de incidentes reais que testaram os limites da resistência física e psicológica de seres humanos partam para uma narrativa repleta de elementos capazes de mexer com o emocional do público, intensificando o conflito – que, por si só, a depender dos casos retratados em tela, já são intensos – com clichês que já nos acostumamos em achar necessários para fazer a trama funcionar. Em A Única Sobrevivente (The One/Odna), drama que aborda a história real de Larisa Savitskaya, uma mulher russa que sobreviveu a uma queda de 5.220 metros em um desastre aéreo no ano de 1981, a adesão ao melodrama enfeitado de apelos sentimentais se faz presente e, surpreendentemente, funciona ao trabalhar com precisão a personagem principal e seus desafios. O filme de Dmitriy Suvorov, que assume a direção e co-escreve roteiro, consegue fazer com que o público demonstre empatia pelo retrato de Larisa feito pela produção, com elementos sutis, porém significativos.
Além de ser co-assinado por Surovov, o roteiro de A Única Sobrevivente conta com a escrita de Alla Zokhina, Andrey Nazarov, Anton Belov e Vasiliy Vakulenko. O compartilhamento de ideias não chega a gerar uma desenvoltura confusa ao longa, muito pelo contrário, já que as escritas agregam valores à narrativa que se espelham em técnicas impressionistas leves, mas que se fazem presentes em momentos de transição da felicidade vivida pela protagonista para a tragédia que mudou sua vida, amalgamadas a um surrealismo bem aplicado que consegue dar ao filme um louvável diferencial, em meio a tantas produções semelhantes dentro desse subgênero.

Dividir os momentos de tensão vividos por Larisa com o drama enfrentado por sua família para obter as verdades ocultadas pelo governo soviético sobre o paradeiro dela, juntamente com a fragilidade do sistema governamental, também foi um acerto. Porém, existe uma quase inevitável deficiência de detalhes que seriam capazes de enriquecer a tensão. A colisão entre um avião militar, que fazia apenas reconhecimento meteorológico nas proximidades de Vladivostók, com uma aeronave de comercial gerou no próprio governo da União Soviética um conflito interno alarmante e inserir essa amálgama entre dramas pessoas e conflitos sociopolíticos da década de 1980 em uma narrativa padrão de sobrevivência foi uma escolha conteudista assertiva.
A ambientação no ano de 1981 também é algo a se destacar. Arquitetura, veículos, móveis e figurinos são bem desenhados e distribuídos com maestria ao longo do filme. A montagem não linear no primeiro ato gera uma curiosidade sobre os caminhos que a narrativa irá tomar até chegar no seu clímax. O trabalho de edição é criativo e acompanha roteiro na ideia de fazer bom uso de clichês para se diferenciar. Com efeitos visuais práticos misturados a um CGI contido e elaborado de maneira gratificante, superando qualquer visual hollywoodiano elaborado com orçamentos exorbitantes, a sequência do acidente testa o fôlego do público e consegue ser imersiva, tal como os inusitados encontros da protagonista com um tigre que a persegue no meio da floresta.
A jovem e promissora atriz Nadezhda Kaleganova, que consegue variar suas emoções com fluidez, convence desde o princípio como a protagonista Larisa e segura boa parte do longa em seus momentos de isolamento e angústia. Maksim Ivanov-Marenin, intérprete de Vladmir/Volodya, e Viktor Dobronravo, que interpreta o agente Knyazev, complementam o elenco com atuações sinceras e envolventes.
A Única Sobrevivente é, de fato, um filme padrão de sobrevivência, mas escrito e realizado com uma ambição adicional que eleva sua interpretação da história de superação da personagem, retratada com força, perseverança e, principalmente, humanidade.