dom, 22 dezembro 2024

Crítica | Abraço de Mãe

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Na produção nacional de terror da Netflix, Abraço de Mãe, uma equipe de bombeiros é enviada a um asilo em risco de desabamento, durante uma tempestade torrencial que gerou calamidade no Rio de Janeiro, em 1996. A missão de evacuar o local acaba se tornando um sinistro desafio de sobrevivência.

A ousada investida de algumas produções cinematográficas em se fazer uma ode à diversos subgêneros e estilos de determinado gênero de fato nos surpreendem devido à tal ambição difícil de se conretizar com êxito. Graças a um cauteloso trabalho de equilíbrio, a fim de não sobrecarregar a história com elementos excessivos e vazios e proporcionar um suspense que possa ostentar autenticidade e acenar com respeito e maturidade para clássicos, a surpresa argentina-brasileira Abraço de Mãe realmente sabe abraçar o terror, sem deixar de lado um apego pelo drama, sendo inteligente (e, ao mesmo tempo, arriscado) em não entregar todas as suas respostas de mão beijada e proporcionar uma experiência que pode, verdadeiramente, causar medo e encantar devido às suas surpeendentes qualidades.

Imagem: Lupa Filmes/Reprodução

Ciente de sua proposta desde os primeiros minutos, o roteiro assinado por Gabriela Capello, André Pereira e o diretor Cristian Ponce tem um árduo trabalho ao trazer uma curiosa junção entre a fantasia de H.P. Lovecraft e a psicanálise Freudiana para um cenário de lendas urbanas latino-americanas. Existem alguns empecilhos que talvez possam dificultar a imediata compreensão do público diante de uma certa “estranheza” que o desenrolar da trama acaba desenvolvendo, mas que logo se sobressaem devido a um interessante jogo entre suspense e intensidade, prevenientes de uma atmosfera aterradora que narrativa constrói. Quando se tem em mãos vários tipos de terror, sendo eles o sobrenatural, o psicológico, o cósmico (Lovecraftiano) o thriller e até mesmo o terror proveniente de catástrofes, há inúmeros caminhos a serem tomados. Abraço de Mãe, por outro lado, assertivamente opta por um caminho menos esperado pelo público, mas que remete a todo o “abraço” forte que a narrativa dá nas suas inúmeras referências, além de ter uma metragem adequada (1 hora e 30 minutos para resolver todos os seus conflitos de maneira satisfatória e nem um pouco enfadonha) e um trabalho de edição que procura evitar cortes repentinos a todo o momento.

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Responsável por tratar de temas aterradores e sensíveis como pavor, traumas e feridas do passado incapazes de cicatrização, paranoias e existencialismo, Cristian Ponce consegue reunir todo esse combustível em uma concepção visual tradicional para o cinema de horror em um modo geral, porém dotada de elementos pouco vistos em produções latino-americanas realizadas diretamente para um serviço streaming. Abraço de Mãe ostenta de uma direção de fotografia que se apega na penumbra e tonalidades mais frias, imagens distorcidas para remeter aos pesadelos e traumas da personagem principal Ana (Marjorie Estiano) e focos verdadeiramente assustadores em imagens capazes de gerar desconforto. Por mais piegas e batido que parece, olhos brilhantes em meio a um ambiente escuro ainda funcionam e são capazes de dar calafrios, assim como cordões umbilicais em forma de tentáculos e seitas misteriosas realizando seus rituais, tudo isso ambientado dentro de um asilo que está prestes a vir abaixo.

Imagem: Lupa Filmes/Reprodução

A produção também serve para destacar o quão inoxidável é o talento de Marjorie Estiano, que se entrega de corpo e alma para sua personagem Ana, refletindo todos os seus traumas e a prisão existencial que a jovem bombeira sente em relação à sua mãe tóxica, interpretada por Chandelly Braz, que também desenvolve um trabalho de excelência. Completam o elenco Val Perré, como o subtenente Dias, Javier Drolas que interpreta o misterioso Ulisses e a saudosa e gigante Ângela Rabello, que nos deixou em novembro de 2023, na pele da antagonista Drika. Bem conduzido, o elenco demosntra naturalidade e química em cena.

Abraço de Mãe é, de fato, um afeto estranhamente caloroso e bem desenvolvido ao cinema de terror e horror, explorando várias de suas vertentes e fazendo o seu melhor para não entregar o óbvio.

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