Existe uma noção muito peculiar no que está sendo produzido nos últimos anos dentro do cinema de gênero: a noção de que toda história, imbuída de algumas reviravoltas, se torna meramente surpreendente e, por consequência, conquista as audiências durante sua projeção. É claro que isso não é novidade, mas em tempos em que a experiência fílmica é dividida com outras telas, prender a atenção do público se torna uma ferramenta essencial para a solidez de sua audiência. Acompanhante Perfeita começa o filme indicando seu início e seu filme: Iris (Sophie Thatcher) se apaixona e, posteriormente, mata Josh (Jack Quaid). As razões para o crime, claro, estão no cerne do desenvolvimento da narrativa, que carrega os protagonistas para uma casa isolada onde deverão passar o fim de semana com os amigos de Josh.
Até então, se estrutura uma trama muito comum de terror, mas Drew Hancock, roteirista e diretor, estabelece desde o princípio a atmosfera de artificialidade que está incorporada não apenas em Iris, mas na própria relação que ela mantém com o personagem de Quaid. Thatcher incorpora, seja pelo figurino ou pelo tom de voz, um estereótipo feminino cuja submissão parece ser a resposta para o carinho de Josh. Em outros termos, a narrativa se torna sobre a libertação feminina da masculinidade tóxica – e a origem da personagem, como fica claro pelo próprio cartaz potencializa essa vertente.
Ao mesmo tempo, todas essas questões são trabalhadas com uma acidez dentro do texto do filme, com piadas muito geracionais e que, com certeza, servirão para cortes em redes sociais – outra característica que surge quase como uma obrigação dentro dos projetos cuja vertente publicitária está sendo acompanhada. Ou seja, estamos dando conta de pelo menos quatro possibilidades angulares de se enxergar o filme: seja pelas lentes do horror, o qual o filme abraça principalmente na metade final; seja pelo seu aspecto sociocultural, configurando um exercício dentro de uma pauta importante; pela construção em cima da ficção-científica, que não fica muito longe do horror, visto que ambos os gêneros traçam paralelos desde o princípio do cinema; ou pela comédia (por que não romântica?).
O que pode ficar evidente em todas essas questões é que o filme coleta e nutre boas ideias. Nada é muito complexo – e nem pretende ser – e tudo é muito trabalhado em cima de um longa que está a todo instante oferecendo uma nova reviravolta, deixando sua audiência satisfeita com o desenrolar da história, recompensando-a devidamente no final, com um embate clássico das jornadas heroicas. Mas, por que, então, este texto se mantém tão cauteloso diante de tudo o que foi apontado? A explicação é, na verdade, bem simples: o filme é competente, mas acaba se limitando à segurança de suas escolhas. Tudo parece muito bem estruturado, com cada peça colocada em seu devido lugar, mas falta-lhe aquele algo mais.
Os enquadramentos são funcionais e simples – longe de ser um demérito, mas acaba revelando certa falta de imaginação por parte do diretor, que prefere não arriscar na experimentação visual e se contenta com o seguro – lembremos que o filme é vendido como um produto dos realizadores de Noites Brutais, bem mais firme tanto nas reviravoltas quanto na imagética. Esse equilíbrio delicado entre o previsível e o satisfatório, entre a familiaridade reconfortante da narrativa e a ausência de riscos criativos, confere-lhe uma certa neutralidade emocional. O espectador é conduzido por uma trama que, embora não decepcione é um tanto reticente em se destacar de outras produções dentro do mesmo gênero.